terça-feira, 27 de abril de 2021

NUNCIO SULPRIZIO

Leigo, Santo
(1817-1836)

A 540 metros acima do nível do mar, nas encostas do Monte Picca, a aldeia de Pescosansonesco, na província de Pescara, estende-se em diferentes níveis até ao contraforte rochoso. Ali, dos jovens cônjuges Domenico Sulprizio, sapateiro, e Rosa Luciani, fiandeira, nasceu em 13 de Abril de 1817, domingo “in albis”, uma criança que, baptizada antes do pôr do sol do mesmo dia, se chamava Núncio.


Só o registo dos baptismos — o livro dos filhos de Deus — da sua paróquia, durante longos anos terá o seu nome: desconhecido dos poderosos, mas conhecido e amado por Deus. Aos três anos, os seus pais o acolheram ao Bispo de Sulmona, Mons. Francesco Tiberi, em visita pastoral à vizinha cidade de Popoli, a confirmar: era 16 de maio de 1820, a única data feliz da sua infância, porque mais tarde só teria de sofrer.

Órfão e explorado

Em agosto do mesmo ano, o padre Domenico faleceu com apenas 26 anos. Cerca de dois anos depois, mamãe Rosa se casa novamente, também para conseguir apoio financeiro, mas o padrasto trata o pequeno Núncio com aspereza e aspereza. Ele é muito apegado à mãe e à avó materna. Começa a frequentar a escola, uma espécie de “jardim-de-infância”, inaugurada pelo padre Don De Fabiis, na localidade de sua nova residência, Corvara.

Para Núncio, estas são as horas mais pacíficas da sua vida: aprende a conhecer Jesus, o Filho de Deus feito homem que morreu na cruz em expiação pelo pecado do mundo, começa a rezar, a seguir os exemplos de Jesus e dos santos, que o bom sacerdote e mestre lhe ensina. Alegre, sociável e aberto, com amiguinhos. Começa a aprender a ler e a escrever.

Mas em 5 de Março de 1823, sua mãe faleceu: Núncio tinha apenas seis anos e sua avó materna Rosaria Del Rosso o hospedou em casa, cuidando dele. Ela é analfabeta, mas tem muita fé e bondade: avó e neto sempre caminham juntos: juntos na oração, na missa, nos pequenos trabalhos domésticos. A criança frequenta a escola criada pelo padre Fantacci para as crianças mais pobres e aí cresce, na sabedoria e na virtude: é um puro de coração que se deleita em servir a missa, em visitar muitas vezes Jesus Eucarístico no Tabernáculo. Ele tem dentro de si um horror cada vez maior ao pecado e um desejo cada vez mais intenso de se assemelhar ao Senhor Jesus.

Quando ele tinha apenas nove anos, em 4 de Abril de 1826, sua avó morreu. Núncio está agora sozinho no mundo e para ele é o início de uma longa “via dolorosa” que o configurará cada vez mais a Jesus Crucificado.

Sozinho no mundo, ele é recebido em casa — como aprendiz — por seu tio Domenico Luciani — conhecido como “Mingo” — que imediatamente o tira da escola e o “fecha” em sua ferraria, engajando-o nos trabalhos mais difíceis, sem respeito pela idade e as necessidades mais básicas da vida. Muitas vezes o trata mal, deixando-o até sem comida, quando lhe parece que não está fazendo o que lhe é exigido. Ele o envia em missões, independentemente das distâncias, ou dos materiais a serem transportados, ou dos encontros bons ou ruins que ele possa ter. Na “bagunça”, no sol, na neve, na chuva, sempre vestido da mesma forma. Ele não é poupado nem mesmo das surras, “temperadas” com palavrões e blasfémias.

Teria que sucumbir em pouco tempo, mas Núncio já tem muita fé. No recinto da oficina, batendo na bigorna, ocupado sob o “chicote” dum trabalho desumano, pensa em seu grande amigo, Jesus Crucificado, e reza e oferece, em união com ele, “em reparação pelos pecados do mundo, para fazer a vontade de Deus”, “para ganhar o paraíso”. Aos domingos, mesmo que ninguém o mande, ele vai à missa, seu único alívio na semana.

Logo ele fica doente. Numa fria manhã de inverno, seu tio Mingo o envia, com uma carga de ferragens nos ombros, pelas encostas de Rocca Tagliata, em uma cabana remota. Vento, frio e gelo o exaurem. À noite ele volta exausto, com a perna inchada, uma febre que o queima, sua cabeça estoura. Ele vai para a cama, sem dizer nada, mas no dia seguinte não aguenta mais.

O tio dá-lhe como “remédio” o de retomar o trabalho, porque “se não trabalhar, não come”. Em certos dias, Núncio se vê obrigado a pedir um pedaço de pão aos vizinhos. Ele responde com sorriso, oração, perdão: «Que seja como Deus quer. Seja feita a vontade de Deus». Assim que pode, refugia-se para rezar na igreja, em frente ao Tabernáculo: alegria, energia e luz lhe vem vêm de Jesus-Hóstia, para que, desde a adolescência, seja capaz de dar muito conselho sábio aos camponeses que o questionam.

Ele se vê com uma terrível ferida no pé, que logo gangrena. Seu tio lhe diz: “Se tu não puderes mais levantar o martelo, ficarás parado e puxarás o fole!” É uma tortura indescritível. A gangrena precisa de limpeza contínua e Núncio se arrasta até o grande chafariz do povoado para se limpar, mas de lá é logo perseguido como um cachorro sarnento e por mulheres que, chegando lá para lavar roupa, temem que isso polua a água. Em seguida, ele encontra um veio de água em Riparossa, onde pode se sustentar, embelezando o tempo que passou ali com muitos Rosários à Madona.

Wochinger, um segundo pai

Entre Abril e Junho de 1831, ele é hospitalizado no hospital de L’Aquila, mas os tratamentos são impotentes. Para Núncio, porém, são semanas de descanso para si e de caridade para com os outros pacientes, de oração intensa. De volta a casa, ele é forçado por seu tio a pedir esmolas para sobreviver. Ele comenta: “É muito pouco o que sofro, enquanto consigo salvar a minha alma amando a Deus”. Em tantas trevas, apenas o Crucifixo é sua luz.

Finalmente, seu tio paterno, Francesco Sulprizio, soldado de Nápoles, informado por um homem de Pescosansonesco, traz Núncio para sua casa e o apresenta ao Coronel Felice Wochinger, conhecido como “o pai dos pobres”, por sua intensa vida de fé e caridade inesgotável. É o verão de 1832 e Núncio tem 15 anos: Wochinger descobre que está diante de um verdadeiro “anjo” de dor e amor por Cristo, um pequeno mártir. Uma relação de pai para filho é estabelecida entre os dois.

Em 20 de Junho de 1832, Núncio entra no Hospital dos Incuráveis, em busca de tratamento e saúde. O Coronel atende a todas as suas necessidades. Médicos e enfermos percebem que estão enfrentando outro “S. Luis”. Um bom padre lhe pergunta: “Tu sofres muito?” Ele responde: “Sim, faço a vontade de Deus.” “O que você quer?” “Desejo confessar e receber Jesus eucarístico pela primeira vez!”. “Tu ainda não recebeste a primeira comunhão?” “Não, no nosso país temos que esperar 15 anos”. “E os teus pais?”. “Morreram”. “E que se ocupa de ti?” “A Providência de Deus”.

Ele foi imediatamente preparado para a primeira comunhão: para Núncio foi realmente o melhor dia de sua vida. O seu confessor dirá que «desde aquele dia a Graça de Deus começou a operar nele de forma extraordinária, para vê-lo correr de virtude em virtude. Toda a sua pessoa respirava o amor de Deus e de Jesus Cristo».

Por cerca de dois anos, ele ficou entre o hospital em Nápoles e os tratamentos termais em Ischia, obtendo algumas melhorias, se bem que passageiras. Deixa as muletas e ande apenas com uma bengala. Enfim, ele fica mais sereno: ora muito, deitado na cama, ou indo à capela em frente ao Tabernáculo e ao Crucifixo e a Nossa Senhora das Dores. Torna-se anjo e apóstolo dos outros enfermos, ensina catecismo a crianças hospitalizadas, preparando-as para a primeira confissão-comunhão e para viverem mais intensamente como cristãos, para valorizar a dor. Quem se aproxima dele sente nele o encanto da santidade. Costuma recomendar aos enfermos: «Esteja sempre com o Senhor, porque dele vem todo o bem. Sofre por amor de Deus e com alegria». Por si mesmo, ele ama muito uma invocação a Nossa Senhora: “Mãe Maria, deixe-me fazer a vontade de Deus”.

Tendo feito todo o possível por sua saúde, a partir de 11 de Abril de 1834, Núncio passou a residir no apartamento do col. Wochinger, no Maschio Angioino. Seu segundo “pai” se reflecte em suas virtudes e se preocupa muito com ele, correspondido por uma profunda gratidão. Pensa em consagrar-se a Deus e, enquanto espera, o confessor aprova uma regra de vida para os seus dias, regra semelhante à de um consagrado, que observa com escrúpulos: oração, meditação e missa matinal, horas de estudo durante o dia, seguido por bons professores, o Rosário de Nossa Senhora à noite. Ele espalha paz e alegria ao seu redor, e um perfume fragrante de santidade.

San Gaetano Errico, fundador da Congregação dos Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, promete-lhe que o acolherá na sua família religiosa assim que esta começar: “Este é um jovem santo e estou interessado que o primeiro a entrar na minha congregação seja um santo, não importa se ele está doente». Muitas vezes, um certo Frei Filippo, da Ordem dos “Alcantarinos”, vem fazer-lhe companhia e acompanha-o, enquanto estiver em pé, na igreja de Santa Bárbara, no interior do castelo. Logo, porém, a melhora inicial é acompanhada pela piora de seu estado físico: afinal é câncer ósseo e não há cura possível. Núncio, torna-se oferta viva com o Crucifixo, agradável a Deus.

Alegria: do Crucifixo

O coronel é muito próximo dele: desde o primeiro dia, chamou-o de “meu filho”, sempre retribuído por ele, com o nome de “meu pai”. Agora entende que infelizmente se aproxima a hora da separação que só a fé consola na certeza do “adeus no céu”.

Em Março de 1836, a situação de Núncio piorou. A febre está muito alta, o coração não aguenta mais. Os sofrimentos são muito agudos. Ora e oferece, pela Igreja, pelos sacerdotes, pela conversão dos pecadores. Quem vem vê-lo recolhe as suas palavras: «Jesus tanto sofreu por nós e pelos seus méritos a vida eterna nos espera. Se sofrermos um pouco, gozaremos no céu». «Jesus sofreu muito por mim. Por que não posso sofrer por Ele?». «Gostaria de morrer para converter um só pecador».

Em 5 de maio de 1836, Núncio mandou trazer o crucifixo e chamou o confessor. Ele recebe os sacramentos, como um santo. Ele consola o seu benfeitor: “Seja feliz, do céu eu sempre o ajudarei”. Ao entardecer, diz ele, muito feliz: “Nossa Senhora, Nossa Senhora, veja como ela é bonita!” Com apenas 19 anos, ele vai ver Deus para sempre. Um perfume de rosas se espalha. Seu corpo, desfeito pela doença, torna-se singularmente belo e fresco e permanece exposto por cinco dias. Seu túmulo é imediatamente um destino de peregrinação.

O Papa Pio IX, em 9 de Julho de 1859, já o declarou “heróicas as suas virtudes” e, portanto, “venerável”. Em 1º de Dezembro de 1963, antes que todos os bispos do mundo se reunissem no Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI inscreveu Núncio Sulprizio entre os “bem-aventurados”. Ao canonizá-lo no domingo, 14 de Outubro de 2018, o Papa Francisco o confirma como modelo para os jovens trabalhadores, para todos os jovens, mesmo os de hoje.

Se Núncio, que viveu sozinho na dor, soube dar sentido e beleza à sua juventude graças a Jesus amou e viveu, porque, com a sua Graça, a Graça do divino Redentor, do maior Amigo do homem, os jovens do hoje, mesmo ameaçados pela desordem de todos os sentidos, pelas drogas, pelo desespero, não poderão fazer da sua vida uma obra-prima de amor e santidade? É preciso acreditar e obedecer a Cristo crucificado e ressuscitado que faz novas todas as coisas.

Autor: Paolo Risso

Fonte: http://www.santiebeati.it/

HILÁRIO DE ARLES

Bispo, Santo
401-449

Hilário, nascido em 401, foi um jovem de família nobre, bem educado e com uma carreira tendendo ao sucesso. Era aparentado com Santo Honorato, que estava determinado em convertê-lo para Cristo e fazê-lo também monge. Já velho, Santo Honorato empreendeu uma viagem até Arles para convencer Hilário a acompanhá-lo, mas este fez ouvidos de surdo, restando ao santo entregar o caso nas mãos de Deus. Hilário conta o que aconteceu:

Embora eu lembre os grandes serviços de Honorato para com todos, devo falar do infinito cuidado para comigo, pois certamente me trouxeram a salvação em Cristo. Mesmo naqueles anos quando eu era muito amigo do mundo e obstinado contra Deus, como um honesto sedutor, com sua gentil mão, ele conduziu-me ao amor de Cristo.


Quando suas palavras piedosas causaram pouca impressão em mim, buscou o melhor refúgio que conhecia: a oração. Seus apelos amorosos entraram nos mais sagrados ouvidos de Deus apelando por misericórdia.

Mas naquele tempo eu obtive uma vitória desastrosa. Então a mão direita de Deus passou a atormentar-me, pois Honorato havia pedido para Ele colocá-la sobre mim. Que tempestades de desejos conflituantes atormentavam meu coração! Quantas vezes concordância e discordância alternavam-se em minha mente! Assim, enquanto Honorato estava longe de mim, Cristo trabalhava em mim. Pelas suas orações, minha obstinação foi conquistada.

Enquanto o Senhor me chamava, todos os prazeres do mundo se apresentavam, minha mente ponderava qual caminho seguir, qual abandonar. Graças a Deus, meu Bom Jesus entranhou-se no seu servo, quebrou os laços com o mundo e forjou laços de amor. Se eu continuar a me sustentar nestes, os laços dos pecados jamais ganharão novamente suas forças.

Hilário foi então ao encontro de Santo Honorato e tornou-se monge. Quando Honorato foi eleito bispo de Arles, pediu que Hilário o acompanhasse; e, após a sua morte, assumiu o bispado em 429. Enquanto serviu como bispo, manteve os hábitos monásticos, fazia trabalhos braçais para arrecadar dinheiro para os pobres e também vendeu ornamentos e riquezas para pagar pela libertação de escravos. Fundou vários mosteiros e revitalizou outros que já existiam.

No entanto, possuía um espírito um tanto autocrático e impaciente nas questões administrativas. Além disso, seu exemplo de austeridade causava problemas com outros bispos que tinham preocupações mais terrenas. Certa feita, ao saber que um bispo estava por morrer, aproveitou a ocasião para indicar um sucessor mais ao seu estilo. Mas o bispo recuperou a saúde, criando uma situação de conflito. Outra feita, num Concílio da Igreja Francesa, depôs um Bispo que não seguia suas orientações. Ambos casos foram parar em Roma. Depois de muitas negociações, o Papa Leão Magno decidiu por afirmar sua autoridade sobre Hilário e os demais metropolitas quanto a nomeação de novos bispos e ainda dividiu a diocese de Arles em outras menores. 

Santo Hilário entrou em obediência, publicamente submetendo-se ao Papa e passou a dedicar-se a pregações e catequeses. Percebendo que a morte se aproximava, pois as pesadas penitências que se submetia lhe enfraqueciam o corpo, escreveu ao Papa sugerindo um nome para seu sucessor, deixando claro que reconhecia a autoridade do Bispo de Roma. Segundo a maioria das fontes, morreu em 5 de Maio de 449, mas São Roberto Belarmino cita 445 e Alberto de Mire, 446. Sabe-se com certeza que a carta do Papa elegendo Ravenio como seu sucessor é datada em Agosto de 449, quando certamente Santo Hilário já estava morto.



AGOSTINHO ROSCELLI

Presbitero, Fundador, Santo
(1818-1902)

Nasceu na pequena cidade de Bergone di Casarza Ligure, Itália, no dia 27 de Julho de 1818. Durante sua infância, foi pastor de ovelhas. A sua família, de poucos recursos, constituiu para ele um exemplo de fé e de virtudes cristãs.


Aos dezassete anos, decidiu ser padre, entusiasmado por António Maria Gianelli, arcebispo de Chiavari, que se dedicava exclusivamente à pregação aos camponeses, e hoje está inscrito no livro dos santos. Em 1835, Agostinho foi para Génova, onde estudou enfrentando sérias dificuldades financeiras, mas sempre ajudado pela sua força de vontade, oração intensa e o auxílio de pessoas de boa vontade.

É ordenado sacerdote em 1846, e enviado para a cidade de São Martino d’Alboro como padre auxiliar. Inicia o seu humilde apostolado a serviço de Deus, dedicando-se com zelo, caridade e exemplo ao crescimento espiritual e ao ministério da confissão.

Agostinho é homem de diálogo no confessionário da igreja genovesa da Consolação, sendo muito procurado, ouvido e solicitado pela população. Sua fama de bom conselheiro corre entre os fiéis, o que faz chegar gente de todas as condições sociais em busca de sua ajuda. Ele passa a conhecer a verdadeira realidade do submundo.

Desde o início, identifica-se nele um exemplo de sacerdote santo, que encarna a figura do "pastor", do educador na fé, do ministro da Palavra e do orientador espiritual, sempre pronto a doar-se na obediência, humildade, silêncio, sacrifício e seguimento dócil e abnegado de Jesus Cristo. Nele, a acção divina, a obra humana e a contemplação fundem-se numa admirável unidade de vida de apostolado e oração.

Em 1872, alarga o campo do seu apostolado, interessando-se não só pelas misérias e pobrezas morais da cidade, e pelos jovens, mas também pelos prisioneiros dos cárceres, a quem leva, com afecto, o conforto e a misericórdia do Senhor. Dois anos mais tarde, passa a dedicar-se também aos recém-nascidos, em favor das mães solteiras, vítimas de relações enganosas, dando-lhes assistência moral e material, inserindo-as no mundo do trabalho honesto.

Com a ajuda de algumas catequistas, padre Agostinho passa à acção. Nasce um grupo de voluntárias, e acolhem os primeiros jovens em dificuldades, para libertá-los do analfabetismo, dando-lhes orientação moral, religiosa e, também, uma profissão. E a obra cresce, exactamente porque responde bem à forte demanda social e religiosa do povo.

Em 1876, dessa obra funda a congregação das Irmãs da Imaculada, indicando-lhes o caminho da santidade em Maria, modelo da vida consagrada. Após o início difícil e incerto, a congregação se consolida e se difunde em toda a Itália e em quase todos os continentes.

A vida terrena do "sacerdote pobre", como lhe costumam chamar, chega ao fim no dia 7 de maio de 1902. O papa João Paulo II proclama santo Agostinho Roscelli em 2001.

Fonte: http://paulinas.org.br

JOSÉ MARIA RUBIO

Jesuíta, Santo
(1864-1929)

Veio ao mundo em Dalías (Almeria) no dia 22 de Julho de 1864. Dele disse o seu avô materno: “Eu morrerei, mas quem viver verá que este menino será um homem importante e que valerá muito para Deus”.


Frequentou a escola da freguesia natal e manifestava o gosto de ler as vidas dos santos. Um seu tio, Cónego, mandou-o estudar num Instituto de Bacharelato, mas descobrindo nele sinais de vocação sacerdotal, enviou-o para o Seminário diocesano de Almeria. No Seminário de São Cecílio de Granada havia de terminar os estudos de filosofia, teologia e direito canónico. Foi ordenado no Seminário diocesano da Imaculada Conceição e de São Dâmaso, de Madrid, no dia 24 de Setembro de 1887, tendo sido incardinado nesta diocese. Na Capela da Virgem do Bom Conselho, na Catedral de Santo Isidro, celebrou a sua primeira Missa em 8 de Outubro seguinte. Em Toledo, obteve a Licenciatura em Teologia, em 1888, e Direito Canónico, em 1897. Pela manhã, entrava na igreja para rezar, dedicava-se à catequese das crianças e a todos impressionava pela sua austeridade, pobreza e caridade para com os pobres.

Enquanto desenvolvia várias actividades de carácter diocesano, não deixava de atender as pessoas no confessionário, catequese, "escolas dominicais", ao mesmo tempo que se dedicava a acompanhar diversos grupos em necessidade espiritual.

Peregrinou a Roma e à Terra Santa, deixando-se impressionar de modo especial pelos túmulos de Pedro e Paulo e Santo Sepulcro e Calvário.

Admirando de modo particular a Companhia de Jesus e chamando-se a si mesmo “Jesuíta por afeição”, entrou no noviciado da Companhia em Granada e fez os primeiros votos em 12 de Outubro de 1908; trabalhou depois em Sevilha, onde desenvolveu grande actividade apostólica; depois de três anos em Manresa (Barcelona), voltou a Madrid onde, em 2 de Fevereiro de 1917, emitiu os votos perpétuos.

Madrid foi o seu novo campo de apostolado, sendo procurado por muita gente, que atraía pelas suas pregações, porque vivia o que pregava. O seu lema era: Fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz”. Organizou e orientou diversas missões populares em Madrid. Quis fundar um instituto, “Os Discípulos de São João”, mas foi impedido de o fazer, aceitando a proibição com estas palavras: não procuro outra coisa além do cumprimento da santíssima vontade de Deus”.

Gozava de dotes místicos e de graças espirituais sobrenaturais, da profecia e da visão. Armavam-lhe ciladas para o apanharem em situações difíceis, mas acabava por impressionar a todos, mesmo os que o queriam ver envolvidos em escândalos e inquietações. Foi formador de muitos cristãos que sofreram o martírio no tempo da perseguição religiosa.

Pressentiu a sua morte e despediu-se dos seus amigos. Debilitado na sua saúde pelo imenso trabalho realizado, foi transferido para Aranjuez, para aí repousar. Mas tudo estava para terminar e José Maria exclamou: “Senhor, se queres levar-me agora, estou preparado”. Faleceu em 2 de Maio de 1929. Em Madrid, todos diziam: “morreu um santo”. Por isso, milhares de pessoas acorreram ao seu funeral; os seus restos mortais foram trasladados para a casa Professa de Madrid, em 1953.

João Paulo II beatificou-o em 6 de Outubro de 1985, em cerimónia celebrada em Roma.

Canonizado em Madrid, onde desenvolveu grande parte do seu ministério e acção sacerdotais e pastorais, no dia 4 de Maio de 2003, pelo mesmo Pontífice, João Paulo II.

RAFAEL ARNAIZ BARON

Noviço cisterciense, Santo
(1911-1938)

Monge espanhol canonizado domingo, 11 de Outubro de 2009 pelo Papa Bento XVI.

Nasceu em Burgos (Espanha) em 1911. Ali mesmo foi à escola com os padres jesuítas. Depois começou a estudar na Escola Superior de Arquitectura de Madrid. Seus tios, os duques de Maqueda, influenciaram no crescimento de sua fé.


Uma juventude alegre e pura

Em 1932 realizou alguns exercícios espirituais onde descobriu que Deus lhe pedia que se fizesse monge trapista. Tinha 23 anos quando foi aceito no mosteiro de São Isidro de Dueñas. Ali viveu uma vida monacal cheia de alegria no meio de sacrifícios e abnegações, onde, segundo ele, cada dia tinha um encanto diferente.

Passava horas escrevendo cartas, para sua mãe, tios e vários amigos. Compartilhava nelas suas experiências interiores: “esta vida, que pode parecer monótona, para mim tem tantos atractivos que não me canso momento algum. Cada hora é diferente pois ainda que exteriormente sigam iguais, interiormente não o são como não são iguais todas as missas”.

Com docilidade, o irmão Rafael soube aceitar os misteriosos desígnios de Deus. No momento mais feliz de sua vida sua saúde se alterou. A febre aumentava e por isso o enviaram de regresso a casa de seus pais. Com o coração partido de dor deixou o mosteiro. Saiu e entrou em três ocasiões até que se reincorporou em 1937. Foi a última vez que viu sua família.

Morreu em 26 de abril de 1938 de um coma diabético. Nos últimos dias reflectia sobre o mistério da dor como ponto de união com a Eternidade: “o meu centro é Deus e Deus crucificado. Meu centro é Jesus na cruz. Agarrado a meu crucifixo quero morrer. O fim é a eterna procissão do dia. Do céu mas isso será no céu”.

Modelo para a juventude

João Paulo II o propôs como modelo de santidade na Jornada Mundial da Juventude em Santiago de Compostela em 1989.

Comentários e escritos ricos de espiritualidade, e por sua vez simples e cheios de sentido do humor. Uma atitude dócil e abnegada frente à enfermidade são alguns elementos que refletiram a alma enamorada de Deus do beato Maria Rafael Arnais Barón, canonizado no domingo 11 de outubro, na praça de São Pedro por Bento XVI.

Dele disse Bento XVI

“À figura do jovem que apresenta a Jesus o seu desejo de ser algo mais do que um bom cumpridor dos deveres que impõe a lei, retornando ao Evangelho de hoje, faz de contraluz o Irmão Rafael, hoje canonizado, falecido aos vinte e sete anos como Oblato na Trapa de San Isidro de Dueñas. Ele também era de uma família abastada e, como ele mesmo disse, de “alma um pouco sonhadora”, cujos sonhos porém não se desvaneceram diante do apego aos bens materiais e a outras metas que a vida do mundo propõe às vezes com grande insistência. Ele disse sim à proposta de seguir Jesus, de maneira imediata e decidida, sem limites nem condições. Deste modo, iniciou um caminho que, a partir do momento em que se deu conta no Mosteiro de que “não sabia rezar”, o levou em poucos anos ao ápice da vida espiritual, que ele retrata com grande simplicidade e maturidade em numerosos escritos. O Irmão Rafael, ainda muito próximo de nós, continua a oferecer-nos com o seu exemplo e as suas obras um percurso atractivo, especialmente para os jovens que não se conformam com pouco, mas que aspiram à plena verdade, à mais indizível alegria, que se alcançam através do amor de Deus. “Vida de amor... Está aqui a única razão de viver”, diz o novo Santo. E insiste: “Do amor de Deus nasce tudo”. Que o Senhor ouça benigno uma das últimas orações de São Rafael Arnáiz, quando lhe entregava toda a sua vida, suplicando: “Toma-me a mim e doa-Te a Ti ao mundo”. Que se doe para reanimar a vida interior dos cristãos de hoje. Que se doe para que os seus Irmãos da Trapa e os centros monásticos continuem a ser esse farol que faz descobrir o íntimo anseio de Deus que Ele pôs em cada coração humano”.


PEDRO ARMENGOL

Mercedário, Confessor, Santo
(1238-1304)

Nascido em 1238, em Terragona, Pedro, da família dos condes de Urgel, recebeu esmerada educação. Moço, deixou os seus e se deu a uma vida de excessos e de correrias...

Nascido em 1238, em Tarragona, Pedro, da família dos condes de Urgel, recebeu esmerada educação. Moço, deixou os seus e se deu a uma vida de excessos e de correrias: feito chefe de um bando de ladrões, percorria as montanhas e assaltava viajantes quando não os matava.


Um dia, refletindo na vida que levava, amedrontou-se, e, arrependido, foi procurar um religioso de Nossa Senhora das Mercês. Atirou-se-lhe aos pés, confessou os crimes todos que perpetrara e discorreu sobre os terrores que lhe assaltavam o coração.

O religioso, que o ouviu, comovido, era o sucessor de São Pedro Nolasco, Guilherme de Bas. Reconhecendo a sinceridade daquele arrependimento, encaminhou-o ao noviciado de Barcelona. Pedro Armengol contava, então, dezenove anos.

Em 1258, depois uniram-no aos religiosos que iam trabalhar na redenção dos cativos. Pedro principiou pelos reinos de Granada e de Múrcia, onde o zelo, a doçura, a prudência e a caridade levaram o superior da ordem a enviá-lo a Alger. Ali, naquele áspero norte africano, Armengol trabalhou diligente e duramente, tanto que, no espaço de dois meses, resgatou trezentos e quarenta e seis escravos, aos quais encaminhou para a Espanha. Pouco mais tarde, restituía a liberdade a um dos irmãos preso como refém e abria as portas das senzalas para cento e dezenove cristãos que gemiam na servidão mais deprimente.

Estava, então, em Bugia, e preparava-se para partir, de volta à pátria, quando soube que dezoito jovenzinhos cristãos, nas casas dos senhores, jaziam expostos à depravação, prestes a perder a fé.

Imediatamente desfez os planos que tinha e foi procurá-los exortando-os a permanecer firmes na crença. Vendo grandes possibilidades de resgatá-los, buscou os senhores, que acordaram em lhes dar a liberdade mediante trinta mil ducados.

Pedro suspirou. Onde, o dinheiro? Suspirou, mas não desanimou.

Com um brilho nos olhos, propôs aos senhores que o tomassem como refém, até que o religioso que com ele ia conduzir os outros resgatados lhe enviasse a soma combinada. A proposta foi aceita e tudo se acomodou.

Durante aquele voluntário aprisionamento, Armengol encontrou, para gáudio da alma, variadas oportunidades para exercer a caridade, a rainha das virtudes: exortava os escravos cristãos a permanecerem fiéis a Deus, consolava-os nas aflições e os encorajava com a esperança de próximos e melhores dias.

O que mais lhe encheu de gozo a grande alma foi a conversão de inúmeros mouros, aos quais, emocionado, porque os encaminhava a Jesus Cristo, batizou.

Ora, os sectários de Maomé, diante daquele apostolado, conseguiram apossar-se dele e o atiraram à negra prisão, para que ali, sem ninguém, sem qualquer socorro, morresse de fome: é que os trinta mil ducados tardavam e os turcos que haviam aceito a proposição de Armengol se impacientaram, e, da impaciência, num átimo, passaram à desconfiança: não seria o religioso um espião enviado por reis cristãos, com o fim de estudar em que estado se encontrava o país?

Pedro Armengol, não demorou muito, foi conduzido à forca, e, uma vez morto, no patíbulo teve de permanecer, a servir de pasto às aves de presa.

Seis dias depois da injusta execução, Guilherme Florentino, o religioso que fora incumbido de levar os resgatados à Espanha e de conseguir o dinheiro que traria liberdade ao refém, chegou. Em quando soube o sucedido, pôs-se a chorar, desesperadamente. Correu ao lugar do suplício, com o coração aos saltos, e, quando viu o companheiro pendendo da forca, mais soluçante se tornou.

A Guilherme Florentino estava, porém reservada incrível surpresa: ouviu uma voz que lhe disse:

— Irmão, não chores, eu vivo sustentado pela Santíssima Virgem, que me assistiu durante os dias passados!

Guilherme pasmou. E uma alegria como jamais sentira igual, fê-lo correr, tremulamente, para o cadafalso, donde desceu o corpo do amigo que a Virgem Santíssima salvara da morte. O sucesso correu pela cidade e pelas vizinhanças com uma rapidez incrível. E o divã, admiradíssimo, quis pormenores do prodígio.

Ao par de toda trama, proibiu que se desse aos maus senhores o dinheiro vinda da Espanha, e ordenou que o usassem para resgatar outros escravos. Pedro Armengol, Guilherme Florentino e vinte e seis novos escravos, partiam, dias depois, para a Espanha.

Desde que o companheiro o descera da forca, em Pedro se conservou, para sempre, os sinais do suplício: trazia o pescoço torto e no rosto uma palidez mortal — porque Deus quis, assim, atestar a realidade do milagre. Cheio de reconhecimento para com a Virgem, o confessor retirou-se a um solitário convento dedicado a Nossa Senhora dos Prados, onde viveu em contínua oração, em ininterrupta penitência — não se alimentando senão de pão e água. A reputação de santo atraia-lhe visitas sobre visitas, que Pedro recebia bondosamente. E aos que eram doentes, exortava-os a ter confiança em Deus, e os curava.

Quando os irmãos lhe lembravam o suplício por que passara, Armengol dizia:

— Crede-me, os únicos dias felizes que penso ter tido, foram aqueles que passei suspenso da forca, porque então estava bem morto para o mundo.

Muitos dias antes de expirar, predisse a morte. Doente de grave moléstia, entregou a Deus a alma enquanto exclamava:

— Agradecerei o Senhor na terra dos vivos!

Era no dia 27 de Abril do ano de 1304, e muitos milagres, operador por sua intercessão, contribuíram para que se lhe rendesse um culto público, culto que foi aprovado em 1686 pelo Papa Inocêncio XI. Bento XIV inseriu-lhe o nome no martirológio romano.

(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VII, p. 291 à 294)

ZITA DE LUCCA

Leiga, Padroeira dos domésticos, Santa
(1218-1278)

Santa Zita nasceu em 1218, em Monsagrati, nos arredores da cidade de Lucca no seio de uma família muito devota. A sua irmã mais velha entrou para um convento de Cister et um seu tio foi eremita e morreu com fama de santidade.


Filha de camponeses, aos 12 anos foi trabalhar como empregada doméstica na casa de uma rica família, e aí permaneceu durante 48 anos, ou seja até morrer.

Extremamente devota, perguntava-se sempre a si mesma: “Isto agrada ao Senhor?” Ou: “Isto desagrada a Jesus?”. Esta preocupação de sempre fazer a vontade diva tornara-se para ela quase uma obsessão.

Tendo sempre, em todas as ocasiões e situações, demonstrado um grande amor para com o próximo, foi-lhe confiado o encargo de distribuir as esmolas cada sexta-feira. E dava do seu pouco, da sua comida, das suas roupas, daquilo que possuía, das suas parcas economias. Dizem que um dia foi surpreendida enquanto socorria os necessitados. Mas no seu avental o que era alimento converteu-se em flores.

Conta-se ainda que certo dia foi dar esmola a um necessitado, durante o seu tempo de trabalho. Vizinhos, tendo sido testemunhas desta “infração”, vieram logo avisar a família Fatinelli, para quem Zita trabalhava. A dona da casa foi à cosinha, para averiguar se havia atraso no afazeres e, ó milagre, alguns Anjos estavam ocupados a fazer aquilo que Zita deveria ter feito durante o tempo em que foi fazer obra de caridade. Daí em diante, nunca mais foi impedida de seguir os seus instintos caritativos.

Um outro facto que sobre ela se conta igualmente é o seguinte:

Durante um período de grande fome que assolou a região, Zita continou a praticar a caridade a que estava habituado, utilizando mesmo o que estava armazenado nos celeiros de seus patrões. Uma vez mais foi acusada, mas quando os seus patrões foram verificar os celeiros, ficaram admirados de os encontrar repletos: nada lá faltava.

Na hora da morte — aos 60 anos — tinha ajoelhada a seus pés toda a família Fatinelli, a quem servira toda a vida. Partiu para o Céu no dia 27 de Abril de 1278.

O seu corpo é venerado na igreja de São  Fredaino, em Lucca, Itália.

Pio XII proclamou-a padroeira das empregadas domésticas do mundo inteiro.