Nascido em
1238, em Terragona, Pedro, da família dos condes de Urgel, recebeu esmerada
educação. Moço, deixou os seus e se deu a uma vida de excessos e de correrias...
Nascido
em 1238, em Tarragona, Pedro, da família dos condes de Urgel, recebeu esmerada
educação. Moço, deixou os seus e se deu a uma vida de excessos e de correrias:
feito chefe de um bando de ladrões, percorria as montanhas e assaltava
viajantes quando não os matava.
O
religioso, que o ouviu, comovido, era o sucessor de São Pedro Nolasco,
Guilherme de Bas. Reconhecendo a sinceridade daquele arrependimento,
encaminhou-o ao noviciado de Barcelona. Pedro Armengol contava, então, dezenove
anos.
Em
1258, depois uniram-no aos religiosos que iam trabalhar na redenção dos
cativos. Pedro principiou pelos reinos de Granada e de Múrcia, onde o zelo, a
doçura, a prudência e a caridade levaram o superior da ordem a enviá-lo a
Alger. Ali, naquele áspero norte africano, Armengol trabalhou diligente e
duramente, tanto que, no espaço de dois meses, resgatou trezentos e quarenta e
seis escravos, aos quais encaminhou para a Espanha. Pouco mais tarde, restituía
a liberdade a um dos irmãos preso como refém e abria as portas das senzalas
para cento e dezenove cristãos que gemiam na servidão mais deprimente.
Estava,
então, em Bugia, e preparava-se para partir, de volta à pátria, quando soube
que dezoito jovenzinhos cristãos, nas casas dos senhores, jaziam expostos à
depravação, prestes a perder a fé.
Imediatamente
desfez os planos que tinha e foi procurá-los exortando-os a permanecer firmes
na crença. Vendo grandes possibilidades de resgatá-los, buscou os senhores, que
acordaram em lhes dar a liberdade mediante trinta mil ducados.
Pedro
suspirou. Onde, o dinheiro? Suspirou, mas não desanimou.
Com
um brilho nos olhos, propôs aos senhores que o tomassem como refém, até que o
religioso que com ele ia conduzir os outros resgatados lhe enviasse a soma
combinada. A proposta foi aceita e tudo se acomodou.
Durante
aquele voluntário aprisionamento, Armengol encontrou, para gáudio da alma,
variadas oportunidades para exercer a caridade, a rainha das virtudes: exortava
os escravos cristãos a permanecerem fiéis a Deus, consolava-os nas aflições e
os encorajava com a esperança de próximos e melhores dias.
O
que mais lhe encheu de gozo a grande alma foi a conversão de inúmeros mouros,
aos quais, emocionado, porque os encaminhava a Jesus Cristo, batizou.
Ora,
os sectários de Maomé, diante daquele apostolado, conseguiram apossar-se dele e
o atiraram à negra prisão, para que ali, sem ninguém, sem qualquer socorro,
morresse de fome: é que os trinta mil ducados tardavam e os turcos que haviam
aceito a proposição de Armengol se impacientaram, e, da impaciência, num átimo,
passaram à desconfiança: não seria o religioso um espião enviado por reis
cristãos, com o fim de estudar em que estado se encontrava o país?
Pedro
Armengol, não demorou muito, foi conduzido à forca, e, uma vez morto, no
patíbulo teve de permanecer, a servir de pasto às aves de presa.
Seis
dias depois da injusta execução, Guilherme Florentino, o religioso que fora
incumbido de levar os resgatados à Espanha e de conseguir o dinheiro que traria
liberdade ao refém, chegou. Em quando soube o sucedido, pôs-se a chorar,
desesperadamente. Correu ao lugar do suplício, com o coração aos saltos, e,
quando viu o companheiro pendendo da forca, mais soluçante se tornou.
A
Guilherme Florentino estava, porém reservada incrível surpresa: ouviu uma voz
que lhe disse:
— Irmão,
não chores, eu vivo sustentado pela Santíssima Virgem, que me assistiu durante
os dias passados!
Guilherme
pasmou. E uma alegria como jamais sentira igual, fê-lo correr, tremulamente,
para o cadafalso, donde desceu o corpo do amigo que a Virgem Santíssima salvara
da morte. O sucesso correu pela cidade e pelas vizinhanças com uma rapidez
incrível. E o divã, admiradíssimo, quis pormenores do prodígio.
Ao
par de toda trama, proibiu que se desse aos maus senhores o dinheiro vinda da
Espanha, e ordenou que o usassem para resgatar outros escravos. Pedro Armengol,
Guilherme Florentino e vinte e seis novos escravos, partiam, dias depois, para
a Espanha.
Desde
que o companheiro o descera da forca, em Pedro se conservou, para sempre, os
sinais do suplício: trazia o pescoço torto e no rosto uma palidez mortal —
porque Deus quis, assim, atestar a realidade do milagre. Cheio de
reconhecimento para com a Virgem, o confessor retirou-se a um solitário
convento dedicado a Nossa Senhora dos Prados, onde viveu em contínua oração, em
ininterrupta penitência — não se alimentando senão de pão e água. A reputação
de santo atraia-lhe visitas sobre visitas, que Pedro recebia bondosamente. E
aos que eram doentes, exortava-os a ter confiança em Deus, e os curava.
Quando
os irmãos lhe lembravam o suplício por que passara, Armengol dizia:
— Crede-me,
os únicos dias felizes que penso ter tido, foram aqueles que passei suspenso da
forca, porque então estava bem morto para o mundo.
Muitos
dias antes de expirar, predisse a morte. Doente de grave moléstia, entregou a
Deus a alma enquanto exclamava:
— Agradecerei
o Senhor na terra dos vivos!
Era
no dia 27 de Abril do ano de 1304, e muitos milagres, operador por sua
intercessão, contribuíram para que se lhe rendesse um culto público, culto que
foi aprovado em 1686 pelo Papa Inocêncio XI. Bento XIV inseriu-lhe o nome no
martirológio romano.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VII, p. 291 à 294)
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