Leigo, Fundador, Beato(1626-1667)
Pedro de São José Betancur nasceu em Villaflor de Tenerife, nas Ilhas
Canárias, Espanha, no dia 19 de Março de 1626, tendo sido baptizado logo no dia
21. Seus pais, Amador González Betancur de
Dele disse
o seu biógrafo: “Todo o tempo em que
conhecemos Pedro de Betancur, conhecemo-lo como um homem virtuoso. Nele, a
virtude parecia natural. Era tão amável como virtuoso e todos os que o
conheciam, o estimavam e quem o estimava, gostava de comunicar com ele. Todos
desejavam tê-lo em sua casa e muitos o procuravam”. Fez da pobreza sua companheira
de vida, para não ter outro tesouro a não ser Jesus Cristo e não ter outra
preocupação senão o amor dos pobres. Viveu em Santiago de los Caballeros,
entrava livremente na casa de todos os que ali habitavam, saindo como tinha
entrado: livre de apegos materiais, alma limpa e coração desprendido, mas
com a convicção firme de que tinha deixado a semente do Evangelho no seio
daquelas famílias. O seu biógrafo diz, mesmo, estas palavras bem elucidativas
da sua presença: “o Irmão Pedro deixava as casas onde entrava banhadas de luz e
saía delas sem detrimento da sua pureza”. Por isso, ele pode ser chamado um “mensageiro
do amor de Deus na América”.
Possuía a
sabedoria própria de um homem simples. Por esta razão, a sua vida se lê melhor
nas suas acções do que nos seus discursos. Por dificuldades nos estudos, não
conseguiu ser sacerdote, não foi membro de uma Ordem religiosa, o que o
convenceu de que Deus o chamava à santidade por outro caminho; seguiu o da
caridade, tornando-se um verdadeiro apaixonado pelo pobres por amor a Cristo.
Sincero e humilde, mas de um singular intuição e prática na vida, soube
reconhecer Deus e encontrar Cristo nas ruas da cidade. Os seus compatriotas
chegavam em busca de poder e de riquezas; ele procurou as suas honras na
catequese, na oração e no alívio dos sofrimentos humanos dos pobres. Essa era a
sua ambição, que realizava “sempre
ocupado em obras de misericórdia”, aliviando o sofrimento do seu Salvador
nas cruzes dos mais pobres.
Era homem
de oração; reconhecendo-se como humilde servo da Santíssima Trindade,
distinguiu-se por uma vida de comunhão contínua com Deus Pai através da oração
e da perseverança em fazer o bem, às vezes à custa das maiores dificuldades,
incompreensões e contrariedades, mas espalhando sempre a caridade a mãos
cheias, dele se podendo dizer como de Cristo: "passou pela terra fazendo o bem" (cf. Act 10,
38). Deixando-se guiar pelo Espírito Santo, permaneceu sempre aberto à sua
inspiração, para orientar os seus passos, palavras e acções.
Peregrino e
contemplativo, traçou um itinerário de lugares de oração, de recolhimento e de
contemplação, para que aqueles povos pudessem gozar de momentos de contacto com
o Senhor.
Ainda hoje,
a tradição fala desses lugares: o Calvário, o Outeiro da Cruz, os pátios
da Pousada de Belém, o Templo de S. Francisco, bem como as ruas de pedra
abençoadas pela sua passagem continuam a ser sinais da sua presença permanente
naqueles lugares. Soube cimentar a piedade popular na devoção aos mistérios de
Cristo e da Virgem Maria, na frequência dos sacramentos e na meditação,
acompanhadas pela preocupação constante da salvação da alma.
Por isso,
não nos admiremos de que ele fosse um “leigo
fundador de uma Ordem religiosa”. Assim se expressam os Bispos da Guatemala
Tendo
vestido o hábito da terceira Ordem de penitência franciscana, continuou a sua
vida na prática das obras de caridade, consolidando a sua devoção a Maria;
rezava o terço na Capela da casa com os escravos, os mais simples, sem deixar
de se retirar para o "seu" Calvário (tinha-o construído com as suas
próprias mãos), pelos pátios da Pousada de Belém, onde, no dizer do seu
biógrafo, "os pobres podiam encontrar pão material para o sustento do seu
corpo e o pão da doutrina para alimento da sua alma". Alguns deixaram-se
seduzir pelo seu exemplo e congregou à sua volta os que julgou idóneos para dar
cumprimento aos seus desejos. Com eles acerta uma vida regular de oração e
austeridade que, ao trabalho com os pobres, uniam uma espiritualidade muito
rica de fidelidade a Deus e vida comunitária. Assim nasceu a Ordem Betlemita,
fundada na Guatemala e ainda hoje viva naqueles meios, ao serviço das pessoas
mais humildes e sem lar.
Destacam os
Bispos da Guatemala três caminhos na herança espiritual legada por Pedro de São
José:
a) Caminho
espiritual, baseado na adoração do Verbo Encarnado, na meditação constante
da paixão de Cristo, no amor e adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia,
amor à Mãe de Deus e a devoção do santo Rosário, a que se juntava a prática da
mortificação, da penitência e do jejum.
b) Caminho
misericrdioso, caracterizado pelo amor aos pobres e a solidariedade para
com todos. Para isto, não hesitou em escrever uma carta ao Rei de Espanha,
pedindo autorização para construir um hospital para convalescentes, o primeiro
do mundo para este género de doentes.
c) Um
caminho profético, onde se descobrem os valores perenes de uma autêntica
evangelização. Assim o evangelizador verdadeiro não deve condenar ninguém
definitivamente, pois o plano de Deus quer a salvação de todos e que todos
cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1 Tim 2, 4), o evangelizador
propõe o plano de Deus a um mundo dominado pelo afã das riquezas, a ambição do
poder e a indiferença orientada pelo prazer.
Beatificado
por João Paulo II em Roma, no dia 22 de Junho de 1980, vai ser canonizado ainda
pelo mesmo Sumo Pontífice, na Guatemala, em 30 deste mês de Julho.
Fizemos algumas referências à Carta Pastoral com que os Bispos da Guatemala quiseram preparar as suas comunidades para esta celebração. A Igreja presente neste país da América Central rejubila com esta jornada, que ficará na memória do seu povo cristão; com ele, alegrar-se-á também a Igreja no México, onde uma canonização e duas beatificações marcarão positivamente a sua vida. Sabemos bem que a santidade não tem fronteiras, para ela não há limites de tempo ou espaço. Graças a Deus!
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