Virgem, Mártir, Santa
† 304
6 de fevereiro
A Igreja festeja hoje o dia de uma das mais gloriosas esposas de Jesus Cristo: A vida e ainda mais a morte desta Santa é uma prova da verdade que vemos estampada na história da Igreja: que Deus se serve de preferência da fraqueza, para confundir os fortes. É a mulher cristã que, destinada a esmagar a cabeça de Satanás, dá provas de um heroísmo que dificilmente encontramos entre os homens. Daí o ódio que Satanás vota à mulher cristã, ódio este fundado no medo e na convicção da impotência dos seus esforços.
Doroteia, filha de um senador romano, nasceu em Cesareia, na Capadócia. De educação distintíssima, Doroteia aliava à riqueza dotes invejáveis, naturais e sobrenaturais. Tinha o governador Fabrício recebido ordens imperiais para exterminar a religião cristã. Uma das primeiras vítimas foi Doroteia. Embora pouco aparecesse em público, era uma verdadeira apóstola de Cristo pela actividade que desenvolvia entre os cristãos, animando-os à constância na luta contra os perseguidores. Citada perante o governador, este sem delongas exigiu que sacrificasse aos deuses. Pronta lhe veio a resposta: “Sendo cristã, só servirei a Deus, rei do céu e da terra, para os deuses não tenho senão desprezo”.
Na discussão que seguiu estas palavras, Fabrício, cativo da formosura de Doroteia fingiu querer sujeitá-la à tortura, para torná-la mais condescendente. Doroteia, porém, disse aos algozes: “Que esperais? Fazei o que é vosso dever. Sofrer pelo amado do meu coração é delícia !” Vendo que não conseguia o intento, Fabrício entregou a Mártir a duas irmãs, Cresta e Calixta, que, há pouco haviam negado a fé. O resultado foi que as duas apóstolas, movidas pela argumentação e pela oração da Santa, se arrependeram da falta e apresentaram-se a Fabrício, declarando fidelidade a Cristo até à morte. Amarradas uma a outra, foram ambas queimadas vivas e metidas em enxofre fervente. Doroteia, longe de lastimar a sorte das companheiras, felicitou-as pela palma do martírio que ganharam. Ela mesma foi estendida sobre o instrumento da tortura, barbaramente açoitada e de mil modos atormentada. Como sinal de desprezo pelas dores, Doroteia louvava a Deus em altas vozes e demonstrava grande satisfação. Perguntada por Fabrício porque tanto se alegrava, respondeu-lhe: “Hoje é o dia mais belo da minha vida; pois arrebatei duas irmãs das garras do demónio e ganhei-as para Cristo; regozijo-me por isto com os Anjos e Santos. Meu coração arde de desejo de estar com meu Esposo divino. Ah ! Fabrício és tão inepto como teus deuses !” Fabrício, diante desta ofensa, condenou a santa Mártir à morte pela espada. A donzela, ouvindo a sentença, exclamou jubilosa: “Graças a meu Deus, que me chama às núpcias eternas !” Era inverno e fazia muito frio. A natureza apresentava um aspecto triste e as árvores ostentavam os galhos desfolhados e secos. Em caminho para o lugar do suplício, Doroteia disse às amigas que a acompanhavam: “Como é triste a terra e sem vida: feliz de mim, que vou para uma terra onde sopram ares mais suaves, onde é mais claro o brilho do sol, onde verdejam os campos, brotam fontes cristalinas, onde, no jardim de meu Esposo, vicejam as flores, desabrocham os lírios em toda formosura, abrem-se as rosas em todo o fulgor e amadurecem os frutos do paraíso”.
Apanhou estas palavras Teófilo, jovem advogado, espírito folgazão, que não deixava passar ocasião, sem dizer uma sensaboria sobre a “superstição” dos cristãos. Disse à Doroteia: “Escuta, esposa de Cristo, manda-me algumas daquelas rosas e maçãs dos jardins e pomares de teu Esposo, de quem estás a falar tanto”.
Doroteia respondeu-lhe, embora lacónica, mas resolutamente: “O que desejas, hoje mesmo o terás; não duvides, que to mandarei”. Chegada ao lugar do suplício, Doroteia ajoelhou-se e recomendou a alma ao divino Esposo. Enquanto estava rezando, apareceu-lhe um Anjo, em figura de um jovem formoso, que lhe ofereceu três maçãs belíssimas e outras tantas rosas de um aroma delicioso. Vendo o presente, Doroteia disse ao Anjo: “Peço-te o favor de levares isto a Teófilo e dizer-lhe que são as frutas e flores, que Doroteia lhe prometeu mandar do jardim do divino Esposo”. Dito isto, entregou-se ao algoz que, com um único golpe, pôs termo à existência terrestre da Santa.
Teófilo recebeu o presente de Doroteia na hora em que, rodeado de amigos, contava a grotesca pilhéria. Qual foi a admiração e espanto, ao ter nas mãos o penhor da promessa da santa Mártir: maçãs maduras e rosas em tempo de inverno ! De mofador, tornou-se admirador do cristianismo e esclarecido por uma luz divina, exclamou: “Não existe realmente outro Deus a não ser o dos cristãos. De hoje em diante só a ele adorarei”. De fato, converteu-se.
Tendo Fabrício notícia desta conversão, mandou chamar Teófilo à sua presença, para em pessoa ter confirmação do ocorrido. Teófilo, de fato, declarou ser sua decisão absoluta seguir o exemplo de Doroteia e abandonar o culto dos deuses, ainda que lhe custasse a vida. Custou-lhe a vida, pois Fabrício o condenou à morte pela espada. A pena foi executada imediatamente e um martírio de pouca duração levou Teófilo à bem-aventurança eterna. Pouco antes da execução, Fabrício lhe disse: “Poupa, desgraçado, a tua vida !” ao que Teófilo respondeu: “E tu, mais desgraçado que eu, tem pena de tua alma. Pouco importa o corpo, contanto que salve a minha alma e entre no gozo de meu Deus”.
As relíquias de Doroteia e Teófilo acham-se em Roma, na Igreja consagrada à memória dos dois mártires.
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