quarta-feira, 31 de agosto de 2011

RAIMUNDO NONATO

Bispo, Santo
1204-1240

Nasceu em 1204, em Portel, na diocese de Urgel, Catalunha. Deram-lhe o cognome de Nonato, que não nasceu, porque sua mãe tendo morrido antes de seu nascimento, tiraram-no do corpo pela operação cesariana. Os parentes eram de família nobre, mas pouco favorecidos de bens de fortuna. Na infância, mostrava gosto pelos exercícios de piedade e pelo cumprimento dos deveres. A penetração de seu espírito fê-lo percorrer, com tanta rapidez como êxito, a carreira das belas letras, Seu pai, que notava nele a inclinação para a vida monástica, ou pelo menos para o estado eclesiástico, mandou-o ao campo, para o fazer trabalhar numa fazenda. Sua intenção era afastá-lo da vocação e do estudo, O santo obedeceu sem replicar e por amor à solidão, encarregou-se do cuidado de pastorear o rebanho, Imitava, nas montanhas e nas florestas, a vida dos antigos anacoretas.
Ora, no campo onde o jovem Raimundo pastoreava suas ovelhas, havia uma pequena igreja ou ermida dedicada a São Nicolau de Mira e nessa igreja uma belíssima imagem da Mãe de Deus. O jovem Raimundo, que tinha perdido a mãe antes de vir ao mundo, ia muitas vezes rezar com fervor diante daquela santa.
Um dia, quando lhe tinha aberto de todo o coração, a santa Virgem apareceu-lhe e disse-lhe com inefável doçura: "Não temas, Raimundo, desde agora eu te recebo por meu filho; poderás, então, com toda verdade, chamar-me de tua mãe e ter certeza de minha protecção para o futuro". Desde aquele momento, embora se considerasse o mais humilde servo da rainha dos céus, não podia deixar de a chamar bem alto com o nome de mãe e de protestar que jamais tinha dito outra,  nem que jamais a teria. Todos os dias rezava o rosário aos pés dessa imagem.
Invejoso de uma juventude tão pura, o espírito das trevas apareceu-lhes sob a forma de um pastor, esforçando-se por persuadi-lo de que a um moço da nobreza não era conveniente levar vida tão rústica e solitária, que devia frequentar lugares mais célebres. O moço respondeu que só seguiria os conselhos de sua mui doce mãe, a Virgem Maria. A esse nome o demónio fugiu com um horrível estrondo, Raimundo foi ao seu asilo costumeiro, agradeceu à sua divina libertadora e, em sua honra, consagrou a Deus a virgindade. Maria testemunhou-lhe a materna satisfação, e o aconselhou a entrar na Ordem da Redenção dos cativos, cuja fundação tinha inspirado havia pouco a São Pedro Nolasco. Raimundo não pedia coisa melhor, mas temia a oposição do pai. O conde de Cardone, inspirado pela Santa Virgem, obteve-lhe o consentimento. Era um senhor de seus parentes que vinha frequentemente em peregrinação à ermida de São Nicolau. Raimundo foi então a Barcelona e fez seus votos nas mãos de São Pedro Nolasco, fundador da Ordem das Mercês.
O novo religioso tornou-se modelo de seus irmãos por seu fervor, sua mortificação e outras virtudes. Seu progresso na perfeição foi tão surpreendente que, após dois ou três meses de profissão, o julgaram digno de exercer o ofício de redentor e substituir a esse respeito, São Pedro Nolasco. Tendo sido enviado à Barbária, obteve dos argelianos a liberdade de um grande número de escravos, Quando seus fundos se esgotaram, deu-se a si mesmo como refém, para o resgate dos cristãos cuja situação era mais rude e cuja fé corria mais risco. O sacrifício generoso que fazia de sua liberdade só serviu para irritar os maometanos. Trataram-no com tanta desumanidade que teria morrido em suas mãos, se o temor de perder a soma estipulada não tivesse levado o cádi, ou magistrado da cidade, a dar ordens para que o poupassem. Deixaram-no então respirar e permitiram-lhe ir aonde quisesse.
Aproveitou a permissão que se lhe concedia, para visitar os cristãos e os consolar. Abriu também os olhos a vários muçulmanos que receberam o baptismo. O governador, tendo sido informado, condenou-o a ser enforcado. Mas os que estavam interessados no pagamento do resgate dos cativos, pelos quais estava como refém, obtiveram-lhe a comutação da pena e ele sofreu cruéis porretadas. Tal suplício não lhe diminuiu a coragem; julgava nada ter feito, enquanto via os irmãos em perigo de se perderem eternamente: também não deixava escapar nenhuma ocasião de ir em seu auxílio. Quando um homem, dizia ele com São Crisóstomo, desse aos pobres tesouros imensos, aquela boa obra em nada se aproxima da de um homem que contribui para a salvação de uma alma. Essa esmola é preferível à distribuição de dez mil talentos; vale mais que o mundo inteiro, por maior que pareça aos nossos olhos, pois um homem é mais precioso que todo o universo.
O santo não tinha mais dinheiro para resgatar os escravos; por outro lado, era um crime capital entre os muçulmanos falar de religião aos de sua seita. Se se deixasse levar pela esperança de algum êxito, via-se exposto à morte, vítima da caridade. Retomou, entretanto, seu primeiro método, de exortar os cristãos e instruir os infiéis. O governador, informado de seu proceder, ficou muito irritado; fê-lo chicotear nas esquinas de todas as ruas, depois do que, lhe furaram os lábios com um ferro em brasa, numa praça pública e lhe fecharam a boca com um cadeado, que se abria somente quanto tinha que comer. Carregaram-no de correntes e fecharam-no numa masmorra. Lá ficou oito meses e só saiu quando os padres das Mercês trouxeram o resgate que São Pedro Nolasco mandava. Vendo que não o queriam deixar na prisão, pediu que, ao menos, lhe fosse permitido viver no meio dos escravos, que tinham urgente necessidade de socorro, Mas as ordens de seu geral, que o chamava, obrigaram-no a partir.
Chegado à Espanha, foi nomeado Cardeal pelo Papa São Gregório IX. Sua nomeação a essa dignidade em nada lhe mudou os sentimentos; conservou sempre o hábito e a primitiva maneira de viver. Preferiu a cela a um palácio que lhe ofereciam; não quis ter ricas mobílias e contentou-se com o que era suficiente para as necessidades da natureza. O Papa chamou-o a Roma, na esperança de que lhe seria muito útil para o governo da Igreja.
Ele se pôs a caminho e viajou com a simplicidade de um pobre religioso; mas logo que chegou a Cardona, que está a seis milhas de Barcelona, foi atacado de uma febre violenta. Viam-se logo nele os sintomas que anunciavam o próximo fim. Morreu a 31 de agosto de 1240, na idade de trinta e sete anos. Enterraram-no na mesma capela de São Nicolau onde tinha começado o noviciado de santidade na juventude. São Pedro Nolasco mandou construir um convento de sua ordem em 1255 e ainda aí se conservam as relíquias de Raimundo. A história de seus milagres foi inserida na coleção dos bolandistas. O Papa Alexandre II colocou-o no martirológio romano, no ano de 1657.
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(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XV, p. 350 à 354)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

EUSTAQUIO VAN LIESHOUT

Presbítero, Beato
1890-1943


Humberto van Lieshout nasceu em Aarle Rixtel, Holanda, em 3 de novembro de 1890. Educado por pais dedicados e bons cristãos, e na convivência de seus oito irmãos, Humberto desenvolveu-se como rapaz generoso e piedoso.
Um dia caiu-lhe nas mãos a biografia do famoso missionário S. Damião de Veuster, o apóstolo da caridade cristã entre os asilados leprosos da Ilha de Molokai. Quis imitá-lo e por isso conseguiu matricular-se no Seminário dos Padres dos Sagrados Corações, mas encontrou bastante dificuldade em seus estudos. Seu abnegado esforço, firmeza de vontade e persistência venceram a fraqueza de seus talentos intelectuais.
No noviciado trocou o seu nome de batismo pelo de Eustáquio, e fez sua profissão religiosa em 27 de janeiro de 1915. Dedicando-se muito à oração e aos estudos, agora com menos dificuldade, no dia 10 de agosto de 1919 foi ordenado sacerdote. Em sua imensa felicidade, pedia à suas duas irmãs religiosas serem para ele no seu sacerdócio como Moisés na montanha, rezando pelo bom êxito do seu apostolado.
Por quatro anos exerceu diversos ministérios na Holanda, onde ganhou fama de caridoso e santo. Foi condecorado "Cavaleiro da Coroa" pelo Rei Alberto da Bélgica, pelo seu trabalho junto aos refugiados belgas.
Em 1925, finalmente, viu completar-se seu ideal vindo ao Brasil como missionário, com mais dois companheiros. O então bispo de Uberaba, Dom Antônio de Almeida Lustosa, convidou sua congregação para vir para a sua diocese. Foi assim fundada a primeira casa da Congregação dos Sagrados Corações no Brasil em Água Suja, MG, onde assumiram o Santuário de Nossa Senhora da Abadia.
Em 1926 tornou-se vigário de três paróquias, com muitas capelas anexas. Seus paroquianos eram pessoas simples, sem instrução religiosa. No começo custou-lhe ganhar a simpatia daquele povo desconfiado. Visitava os doentes nas choupanas, distribuía roupas e alimentos aos necessitados, acudia aos problemas familiares. Era pai, amigo, advogado e piedoso pastor das almas. Reabriu a escola rural, moralizou as festas da Padroeira, pregou missões populares em todas as três paróquias. Iniciou a construção do novo Santuário, tão conhecido hoje por todo o povo do Triângulo Mineiro. Conquistou assim todo a região, e ganhou fama de santo e milagreiro.
Quando foi transferido para Poá, SP, o povo não permitiu a sua saída. Somente dois meses depois, quando as coisas acalmaram, ele pode assumir essa nova paróquia recém criada. Poá fazia parte da zona suburbana da capital de São Paulo e a maioria da sua população trabalhava nas fábricas e indústrias de São Miguel e São Paulo. Sendo vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, atendia várias outras paróquias vizinhas com seus dois padres coadjutores. Iniciou seu apostolado e as pregações em toda a região. Após uma viagem à Holanda e a Lourdes, na França, de onde trouxe não só muitos donativos mas também muita água da fonte milagrosa, erigiu ao lado da igreja uma imitação da gruta de Lourdes. Suas pregações e bênçãos logo criaram fama e projetaram o seu nome pelo estado e até Brasil afora...Passou a ser conhecido como o "Vigário de Poá". A notícia das curas do ‘santo’ Pe. Eustáquio fizeram afluir muita gente à sua procura. Milhares de pessoas se apinhavam nas ruas da pequena cidade de Poá, que não comportava tanto movimento de gente. A todos o bom padre procurava sempre atender ou dar sua bênção.
Em maio de 1941 a situação tornou-se insustentável e Pe. Eustáquio teve que ser transferido. Por onde passava as multidões acorriam e assim não conseguia mais descansar.
Após algumas transferências, foi empossado como vigário da Paróquia de São Domingos em Belo Horizonte, MG, em 7 de abril de 1942. Por ordem dos superiores, somente no confessionário podia atender os não-paroquianos, em número reduzido, em horários fixos. Assim podia conduzir o seu apostolado na paróquia como um vigário normalmente faria.
A pedido do bispo realizou inúmeras atividades em outras paróquias da capital mineira, como retiros, conferências e confissões; o mesmo aconteceu em outras cidades do interior. Era incansável no trabalho pastoral, e assim consumiu sua robustez física.
De repente a notícia alarmante: Pe. Eustáquio adoecera gravemente, picado por um carrapato perigoso, em suas andanças pelas vilas abandonadas de sua paróquia. Contraíra tifo exenquemático, mal para o qual não havia tratamento adequado naquele tempo. Diversas vezes havia predito sua morte próxima. Em julho de 1942, quando atendera uma senhora acamada havia anos e que pedia a Deus de ir para o céu, disse: "A senhora viverá, ainda, por muitos anos. Sou eu quem vou morrer no ano que vem".
Sofreu terrivelmente, mas aguardou a morte com calma e alegria. Dia 30 de agosto de 1943 sua bela alma descansou definitivamente na paz de Deus. Dia 31 foi decretado luto oficial no município de Belo Horizonte, e toda a cidade acorreu para o último adeus.
Durante cinco anos seu túmulo foi constantemente visitado por gente de todo o Brasil e em 1949 foi feita a exumação e trasladação para a sepultura definitiva na Igreja dos Sagrados Corações, cuja construção ele mesmo iniciara em 13 de maio de 1943.
Foi beatificado por Bento XVI em 2006;

ALFREDO ILDEFONSO SCHUSTER

Beneditino, Cardeal, Beato
1880-1954


Alfredo Luís Schuster, nasceu em Roma a 18 de Janeiro de 1880. Desde a idade de 11 anos, entrou no mosteiro beneditino de São Paulo Fora dos Muros, onde pronunciou os votos simples em 1899. Ali tomou o nome de Ildefonso Schuster. Foi ordenado sacerdote em 1904, e nesse mesmo ano Mestre dos noviços, vindo a ser eleito Abade em 1918. Esta preparação na escola de São Bento forjou nele uma alma de oração et de contemplação. Esta obra abre-o ao “amor de Deus que é o fundamento da comunhão fraterna et do apostolado” (João Paulo II).
Em 1929 foi nomeado Arcebispo de Milão por Pio XI, e no mesmo ano, foi criado Cardeal. Foi na oração et na meditação quotidiana das Escrituras que este “frágil frade” encontrou o segredo que lhe permitiu ocupar os baluartes da cena numa época turvada pelo fascismo.
Durante a segunda guerra mundial, ele deu provas da sua grande caridade. Este sábio que tinha publicado os 10 volumes do “Liber sacramentorum” (1919-1923) criou uma escola de música assim como centros de cultura católica. O Cardeal Schuster preocupou-se com o seu clero para o qual ele era um exemplo vivo da maneira como podem ser harminizadas a contemplação e a acção pastoral.
Ele recomendou a participação dos leigos na vida paroquial. Durante o seu pontificado, convocou cinco sínodos.
Para concluir a vida deste “Bispo intrépido e deste apóstolo infatigável”, podemos utilizar as suas próprias palavras: “No fim, o que conta para a verdadeira grandeza da Igreja e dos seus filhos, é o amor”.
O Cardeal Schuster morreu a 30 de Agosto de 1954 em Venegono Inferior (província civil de Varese, diocese de Milão), no Seminário Arquiepiscopal Pio XI, onde ele se encontrava de passagem. Foi seu sucessor um amigo dos beneditinos, Mons. João Baptista Montini (futuro Papa Paulo VI), que introduziu a sua causa de beatificação em 1957.

TECLA DA TURQUIA

virgem e mártir

Não se sabe exatamente se foi em Isaúria ou na Licaônia, Turquia, o local onde a virgem mártir Tecla nasceu. O que se sabe é que é uma das figuras mais importantes dos tempos apostólicos, muito celebrada entre os gregos. Tudo começou quando, um dia, ao ouvir uma conversa sobre o valor da castidade entre o apóstolo Paulo e seu anfitrião Onesíforo, a jovem e pagã Tecla foi tocada no coração pelo discurso do santo. Ficou tão impressionada que, naquele exato momento, resolveu não mais se casar. Mas o faria muito em breve, pois havia sido prometida a um jovem de nome Tamiris.
Quando a jovem resolveu desmanchar o casamento, tanto sua família como a do noivo fizeram de tudo para demovê-la da idéia. Tecla, porém, se manteve firme na convicção de se converter. Isso despertou a ira de seu noivo Tamiris que conseguiu a prisão e a tortura de São Paulo por influenciar a jovem, o que eles consideravam ser uma atitude demoníaca por parte do apóstolo.
Nem assim Tamiris conseguiu que Tecla abandonasse os ensinamento de Cristo, que agora seguia. Ela foi algumas vezes procurar Paulo no cárcere para lhe dar apoio e solidariedade. Com essa atitude, deixou seu ex-noivo ainda mais irado. Como conseqüência, ele denunciou-a para o procônsul que a sentenciou à morte na fogueira. E foi assim, que a condenação resultou numa surpresa: as chamas não a queimaram. Algum tempo depois, Tecla foi novamente julgada e condenada à morte, só que dessa vez seria atirada às feras, diante do povo no Circo. Mais uma vez o prodígio se realizou e as feras se deixaram acariciar por ela, cujas mãos lhe lambiam mansamente. Pareciam mais pequenos gatinhos ao invés de ferozes tigres e leopardos selvagens. Por fim, Tecla foi jogada dentro de uma escura caverna cheia de serpentes venenosas. De novo nada lhe aconteceu.
Conta uma da mais antigas tradições cristãs, que Tecla morreu aos noventa anos de idade, em Selêucia, moderna Selefkie da Ásia Menor, depois de conseguir a conversão de muitos pagãos. O corpo de Santa Tecla teria sido sepultado nessa cidade, onde depois os imperadores cristãos mandaram erguer uma igreja dedicada à sua memória.
Santa Tecla é invocada pelos fieis devotos como a padroeira dos agonizantes e também solicitada para interceder por eles contra os males da vista. A Igreja confirmou o seu culto pela tradição dos fiéis e manteve o dia em que tradicionalmente sua festa é realizada.
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domingo, 28 de agosto de 2011

JOANA MARIA DA CRUZ

Joana Jugan
Religiosa, Beata
1792-1879


Joana nasceu numa aldeia de Cancale, França, em 25 de outubro de 1792. Seu pai era um pescador e morreu no mar quando ela tinha quatro anos. Logo conheceu a pobreza e começou a trabalhar como empregada num castelo. Sustentava a família enquanto ajudava os idosos abandonados e pobres. Joana era sensível à miséria dos idosos que encontrava nas ruas, dividindo com eles seu salário, o pão e o tempo de que dispunha.
Aos dezoito anos de idade, recusou uma proposta matrimonial de um jovem marinheiro, sinalizando: "Deus me quer para ele". Aos vinte e cinco anos, deixou sua cidade para ser enfermeira no hospital Santo Estêvão. Nesse meio tempo, ingressou na Ordem Terceira fundada por são João Eudes.
Deixou o hospital em 1823 e foi residir e acompanhar a senhorita Lecoq, mais como amiga do que enfermeira, com quem ficou por doze anos. Com a morte da senhorita Lecoq, herdou suas poucas economias e a mobília. Assim, sozinha, associou-se à amiga Francisca Aubert e alugaram um apartamento, em 1839. Lá acolheu a primeira idosa, pobre, doente, sozinha, cega e paralítica. Depois dessa, seguiram-se muitas mais. Outras companheiras de Joana uniram-se a ela na missão e surgiu o primeiro grupo, formando uma associação para os pobres, sob a condução do vigário do hospital Santo Estêvão.
Em 1841, deixam o apartamento e alugam uma pequena casa que lhes permite acolher doze idosos doentes e abandonados. Sozinha, Joana inicia sua campanha junto à população para recolher auxílios, tarefa que cumprirá até a morte. Mas logo sensibiliza uma rica comerciante e com essa ajuda consegue comprar um antigo convento. Ele se tornou a Casa-mãe da nascente Congregação das Irmãzinhas dos Pobres, sob a assistência da Ordem Hospedeira de São João de Deus, hábito que depois recebeu, tomando o nome de Joana Maria da Cruz. Adotando o voto de hospitalidade, imprimiu seu próprio carisma: "A doação como apostolado de caridade para com quem sofre por causa da idade, da pobreza, da solidão e outras dificuldades".
Assim foi o humilde começo da Congregação, que rapidamente se estendeu por vários países da Europa. Quando Joana morreu na França, em 29 de agosto de 1879, na Casa-mãe de Pern, as irmãzinhas eram quase duas mil e quinhentas, com cento e setenta e sete casas em dez países.
Em setembro de 1885, estabeleceram-se na América do Sul, fundando a primeira Casa na cidade de Valparaíso, no Chile, a qual logo foi destruída por um terremoto e reconstruída em Viña del Mar. Atualizando-se às necessidades temporais, hoje são quase duzentas casas em trinta e um países na Europa, América, África, Ásia e Oceania.
Uma obra fruto da visão da fundadora, Joana Jugan, madre Joana Maria da Cruz, que "soube intuir as necessidades mais profundas dos anciãos e entregou sua vida a seu serviço", para ser festejada no dia de sua morte, como disse o papa João Paulo II quando a beatificou em 1982.
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DEGOLAÇÃO DE SÃO JOÃO BATISTA

Precursor do Messias

Quando São João Batista, o preclaro Precursor do Messias abandonou o deserto, para onde se tinha retirado, por inspiração do Espírito Santo, foi para o rio Jordão, onde começou a batizar e pregar a penitência, preparando desta maneira o terreno para a nova doutrina do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Abusos e vícios detestáveis tinham se aninhado na sociedade Judaica e São João Batista se propôs a verberá-los energicamente. À testa do governo estava o rei Herodes, cognominado Antipas, filho daquele outro Herodes, por cuja ordem foram assassinados os inocentes de Belém. É o mesmo Herodes Antipas, que figura na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois ao tribunal desse monarca que Pôncio Pilatos mandou Nosso Senhor, que de Herodes só ouviu escárnios e cujos soldados lhe vestiram a túnica branca.
Herodes antipas vivia escandalosamente, tendo raptado Herodíades, esposa de seu irmão Felipe. Essa união ilícita era um mau exemplo e grave escândalo para a nação inteira. Não havia quem se sentisse com coragem de censurar o monarca e chamá-lo à ordem. São João Batista, porém, não podia ver tal coisa, de braços cruzados.
O Evangelho diz que Herodes se sentiu atraído pela personalidade extraordinária do Batista, e com agrado lhe ouvia as instruções. Diz mais que São João lhe declarou, com toda franqueza: "Não te é lícito viver com a mulher do teu irmão". O que o rei respondeu, o Evangelho não conta; mas podemos crer que Herodes recebeu muito mal a declaração do profeta; tão mal que ponderou as possibilidades de livrar-se de tão incômodo e importuno monitor. Se não deu passo nesse sentido, foi porque temia o povo que a São João grande veneração dedicava. Mais ofendida se sentiu a mulher, que tanto fez, tanto instigou, que o rei se decidiu a encarcerar o Santo Precursor. Na prisão, João recebia as visitas dos discípulos, que ávidos ouviam as instruções do mestre. Alguns deles foram, em comissão, enviados ao Divino Mestre, para lhe dirigir esta pergunta: "És Tu o que há de vir ou devemos por um outro esperar?". São João mandou fazer a Jesus esta pergunta, não porque duvidasse da sua divindade e missão messiânica, mas para que os discípulos tivessem ocasião de conhecer e presenciar as maravilhas por Ele feitas.
É de opinião dos Santos Padres que a prisão de São João se efetuara em dezembro, tendo o Santo ficado encarcerado até agosto do ano seguinte. Era em agosto que Herodes festejava pomposamente o seu aniversário natalício. Ao suntuoso banquete estavam presentes muitos convivas, entre estes os Príncipes da Galiléia. Fazia parte do programa uma dança oriental executada pela filha de Herodíades, chamada Salomé. Tão bem a jovem desempenhou o papel de dançarina, que Herodes, para lhe mostrar seu contentamento, prometeu dar-lhe tudo o que pedisse, ainda que fosse a metade do reino. Esta promessa, tão levianamente emitida, o rei ainda a confirmou com um juramento. Salomé, tão admirada quão perplexa, diante dessa inesperada liberalidade do monarca, foi ter com a mãe, para saber o seu parecer. Herodíades achou chegado o momento de livrar-se do odiado profeta, e nenhum instante hesitou. "Vai disse à filha resolutamente e pede a cabeça de João Batista". Sem pestanejar e afoitamente, a leviana dançarina transmitiu a ordem da mãe ao Rei e disse-lhe em voz alta, para que todos pudessem ouvir: "Quero que me dês num prato, a cabeça de João Batista". Ao ouvir um pedido tão bárbaro e desapiedado, Herodes apavorou-se mas, não querendo desapontar a moça e lembrando-se do juramento que fizera, anuiu e mandou o algoz ao cárcere onde João se achava. A ordem de decapitá-lo foi cumprida imediatamente e pouco momento depois, Salomé teve satisfeito o seu desejo: a cabeça de João Batista, apresentada num prato.
Os discípulos, logo que souberam do crime, retiraram o corpo do querido mestre do cárcere e deram-lhe honroso enterro.
Os assassinos não escaparam da vingança de Deus. O Rei da Arábia, cuja filha, esposa de Herodes, por este tirano tinha sido repudiada, abriu campanha contra o adúltero, venceu-o e exilou-o. O imperador de Roma, por sua vez, desterrou-o para Lion, na Gália. Assim, abandonado por todos, fugiu com Herodíades para a Espanha, onde ambos morreram na maior miséria. Consta que Salomé, ao atravessar em pleno e regiroso inverno um rio coberto de gelo, este cedeu e os pedaços de gelo, chocando-se um contra o outro, cortaram-lhe a cabeça.
O martírio de São João se deu um ano antes da morte de Nosso Senhor. O corpo do Santo foi enterrado na Samaria. Seu túmulo foi profanado em 362 pelos pagãos. Piedosos monges salvaram pequenos restos que foram entregues a Santo Atanásio, em Alexandria.
A cabeça de São João Batista foi encontrada em Emese, na Síria em 453 e é hoje a relíquia mais insigne da catedral de Breslau.
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

TRANSVERBERAÇÃO DO CORAÇÃO DE SANTA TERESA

Como a Santa Doutora da Igreja o explica ela mesma esta transverberação...

« Via um anjo ao pé de mim, para o lado esquerdo, em forma corporal, se o que não costumo ver senão por maravilha. Ainda que muitas vezes se me representam anjos, é sem os ver, senão como na visão passada, que disse antes. Nesta visão quis o Senhor que o visse assim:
Não era grande mas pequeno, formoso em extremo, o rosto tão incendido, que parecia dos anjos mais sublimes que parecem todos se abrasam. Devem ser os que chamam Querubins, que os nomes não mos dizem, mas bem vejo que no Céu há tanta diferença duns anjos a outros e destes outros a outros, que não o saberia dizer. Via-lhe nas mãos um dardo de oiro comprido e, no fim da ponta de ferro, me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia-me meter-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo, dir-se-ia que as levava consigo, e me deixava toda abrasada em grande amor de Deus.
Era tão intensa a dor, que me fazia dar aqueles queixumes e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não se pode desejar que se tire, nem a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal mas espiritual, embora o corpo não deixa de ter a sua parte, e até muita. É um requebro tão suave que têm entre si a alma e Deus, que suplico à Sua bondade o dê a gostar a quem pensar que minto ». (Livro da Vida, cap. 29-13)

TERESA DE JESUS JORNET E IBARS

Virgem, Fundadora, Santa
+1897


Mais uma santa fundadora de um instituto feminino florescente, pequenas irmãs dos anciãos abandonados, que em 1983 possuía 212 casas e 2.750 irmãs.
Nasceu Teresa em Aytona, na Catalunha em 9 de Janeiro de 1843. Passou a adolecência na terra natal e em Lérida, completando os estudos em Fraga, onde obteve o diploma de professora.
Depois de um tempo dedicado ao ensino, associou-se às terceiras carmelitas, reunidas por um seu tio sacerdote. Foi directora da escola, mas desejando maior perfeição entrou em 1868 para as clarissas, de onde saiu dois anos depois por causa de sua pouca saúde. Voltou para as terceiras carmelitas, assumindo de novo a direcção da escola. Quando da morte do tio (1872), a instituição esteve a ponto de dissolver-se, e Teresa voltou para cidade natal. No mesmo ano encontrou o Pe. Saturnino López Novoa, que tinha fundado uma congregação para a assistência de anciãos pobres e fez parte do 1º grupo de 28 companheiras com as quais se iniciou essa obra.
No ano seguinte abriam sua primeira casa em Valência. Em 1874, aprovado o instituto pelo bispo dessa cidade, fez a sua profissão temporária e fundou outra casa em Saragoza. Em 12 anos fundaram-se 47 casas para os velhos pobres. A congregação cresceu e foi aprovada pela Santa Sé. Expandiram-se em Cuba e por toda a América Latina. Mas tiveram de lutar contra outra congregação relilgiosa francesa, que queria a fusão com a obra de Teresa ou ao menos que sua obra mudasse de nome. Em 1882 chegou-se finalmente a um acordo.
Com saúde fraca, Teresa morreu ainda jovem em 1897, no dia 26 de Agosto. A congregação nunca se preocupou em mover a causa de beatificação da fundadora, que foi levada a termo por iniciativa da autoridade da Igreja.
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ZEFERINO DE ROMA

Papa, Mártir
+217


São Zeferino foi o 15º Papa a tombar, martirizado, em defesa da Igreja de Cristo. Era natural de Roma. Dedicou-se com muita diligência e zelo, pregando e testemunhando o Evangelho com grande virtude e sabedoria, qualidades que floresceram no pontificado de São Vitor I, de quem se tornaria sucessor na Sé apostólica.
Após o glorioso martírio do Papa São Vitor, ocorrido no dia 28 de julho de 199, o povo de Deus, unido ao clero, reuniu-se em intensas orações, a fim de que o Senhor iluminasse o rebanho para a escolha de um digno vigário. Depois de onze dias de intensas orações, o Espírito Santo manifestou-se em forma de pomba e desceu sobre a cabeça do então presbítero Zeferino, onde repousou por um breve espaço de tempo, desaparecendo em seguida. Os fiéis logo identificaram a escolha de Deus. Por unanimidade, o elegeram no mês de agosto daquele ano, quando assumiu honrosamente o divino governo da Igreja.
Logo no início de seu pontificado, o imperador Septímio Severo moveu, por decreto, intensa perseguição contra a Igreja, fato que levou São Zeferino a tomar as primeiras providências no sentido de zelar pelo rebanho, levando seu auxílio e consolo naqueles dias de grande tribulação. Pessoalmente, de dia e de noite, percorreu infatigavelmente diversas casas, cavernas e locais subterrâneos. Colocou em risco a própria vida, visitando e consolando não só os encarcerados, mas também os condenados, que acompanhava até aos cadafalsos. A todos alentava com palavras e esmolas, levando a eles o Pão dos fortes, regado com o Sangue de Cristo. A cruel perseguição perdurou por nove anos consecutivos, até a morte do imperador Severo, quando a Igreja recobrou um certo período de paz.
Editou importantes regras canônicas, especialmente as relativas à disciplina eclesiástica. Foi ele quem determinou que os fiéis católicos comungassem, pelo menos na ocasião da Festa da Páscoa. Também, quanto aos cálices sagrados, até então confeccionados em madeira, determinou que deveriam ser feitos, ao menos de vidro.
Durante seu pontificado, a cabeça da heresia reergueu-se furiosamente. Praxeas, que no pontificado anterior havia retratado-se da pregação de sua heresia patripasiana (negação da Santíssima Trindade), novamente tentou semear sua doutrina errônea e, por isto, foi duramente combatido pelo Papa. Também Tertuliano, que coberto com uma capa de austeridade e rigor, grande desgosto causou ao Santo Padre, após voltar-se contra ele mediante censuras e ataques. Arrebanhando diversos adeptos, Tertuliano mergulhou definitivamente na lama das sua doutrina insana.
São Zeferino governou a Igreja até o ano de 217, quando recebeu a auréola dos mártires no dia 26 de agosto, sob o governo do imperador Antonino.

AGOSTINHO DE CARTAGO

Doutor da Igreja, coluna inabalável da verdade

Um dos maiores gênios que a humanidade já produziu, denominado pelos escritores eclesiásticos Mestre da Teologia, Escudo da Fé e Flagelo dos hereges, entre outros títulos
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Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 em Tagaste, pequena cidade livre do proconsulado da Numídia, do Império Romano, ao norte da África. Seus pais, Patrício e Mônica, se bem que de honradas famílias, não eram ricos. O genitor, ainda pagão, pertenceu à cúria da cidade — assembléia dos que compunham a cúria, uma divisão político-religiosa do povo romano. Sua mãe, fervorosa cristã, criou Agostinho no temor de Deus desde os primeiros anos de sua infância. Inscreveu-o também no número dos catecúmenos.
Ainda na infância, o menino ficou gravemente enfermo e pensou-se em administrar-lhe o santo Batismo. Mas, tendo ele melhorado, foi adiada a recepção desse Sacramento, conforme costume da época.

Adolescente, afunda-se nos vícios

A brilhante inteligência de Agostinho e sua fiel memória propiciavam-lhe muita facilidade para os estudos. Esse fator inclinou seu pai, quando Agostinho terminou os estudos em Tagaste e Madaura, a pensar em mandá-lo para Cartago, a capital romana do norte da África, onde ele poderia prosseguir sua formação intelectual e chegar a reputado jurista.
O ano que Agostinho passou, esperando que seu pai juntasse o dinheiro suficiente para isso, foi-lhe funesto. Estava na exuberância dos seus 16 anos, cheio de vida e quimeras, e perdeu-se moralmente devido à influência deletéria de maus companheiros, que levavam vida debochada. Declara ele em sua imortal obra Confissões: “Desde a adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores! Desgastou-se a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos [ó Deus], enquanto eu agradava a mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens”[1].
Chegando por fim à famosa Cartago, aos 17 anos, logo se uniu à turbulenta mocidade acadêmica da cidade. Iniciou em seu curso de retórica o estudo de Virgílio, poetas e escritores latinos. Descobriu em Cícero a atração da filosofia, e a ela entregou-se com ardoroso fervor. Aos 19 anos uniu-se em ligação pecaminosa a uma donzela, com quem viverá 15 anos, só rompendo esse criminoso vínculo ao se converter. Ela lhe deu um filho, Deodato.

Aliciado pela heresia maniquéia

Em busca da vã curiosidade, “caí nas mãos de homens desvairados pela presunção, extremamente carnais e loquazes. Suas palavras traziam as armadilhas do demônio, numa mistura confusa do Teu nome com o de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo consolador”[2]. Eram os hereges maniqueus. Agostinho tornar-se-á um de seus ardentes defensores, pervertendo para a seita vários amigos católicos. Durante nove anos permanecerá em suas malhas.
No ano 375, tendo terminado seus estudos, voltou para Tagaste, onde ensinou com sucesso gramática e retórica. Como ele se obstinava na heresia, sua mãe não quis acolhê-lo em casa. Tendo porém consultado um bispo a respeito, este aconselhou-a a recebê-lo, dizendo que um filho de tantas lágrimas não podia perder-se. Entretanto, depois da morte de um amigo muito íntimo, para esquecer a dor, Agostinho voltou para Cartago, onde continuou a ensinar retórica com o mesmo brilho.
Apesar de maniqueu, Agostinho tinha muitas dúvidas a respeito do que lhe era ensinado pela seita. Mas todos lhe diziam que o “bispo” deles, Fausto, responderia maravilhosamente a todas suas objeções. Ora, em 378, Fausto foi a Cartago. Este, apesar de ter palavra fácil e verbosidade atraente, acabou por reconhecer que não tinha respostas para as indagações de Agostinho. Com isso, “o ardor que eu tivera em progredir na seita que abraçara, arrefeceu completamente logo que conheci esse homem, mas não a ponto de desligar-me radicalmente dos maniqueus.[...] Decidira contentar-me temporariamente com ela, até encontrar algo mais claro, que merecesse ser abraçado”[3]. E esse algo ele encontraria, não em Cartago, mas em Milão.

Rumo à conversão e à santidade

Aos 29 anos, ainda inquieto em busca da verdade pela qual aspirava, Agostinho resolveu ir para a Itália. Em Roma lecionou retórica, mas acabou trasladando-se para Milão. Lá, sua mãe passou a morar com ele.
“A leitura das Epístolas de São Paulo, a influência de sua mãe, Mônica, e do bispo de Milão, Ambrósio, levaram-no a se reaproximar dos cristãos. Como ele narra nas Confissões, depois das reviravoltas de suas hesitações ele vive um momento intenso de dilaceração interior. Tal compunção o decide a se converter”[4]. Mas esse processo de conversão durou três anos.
Enfim, na véspera da Páscoa de 387, ele é batizado por Santo Ambrósio juntamente com seu filho Deodato e vários discípulos.
Depois do batismo, Agostinho resolve voltar para a África. Em Óstia, perto de Roma, dá-se o famoso êxtase em que ele e sua mãe são arrebatados quando consideravam a vida futura. Pouco antes havia falecido seu filho, aos 15 anos de idade. E Santa Mônica logo o segue ao túmulo. “Em toda a literatura não há páginas com mais refinado sentimento do que a história de sua santa morte e a dor de Agostinho [Confissões, IX][5].
Novamente em Tagaste, viveu retirado do mundo durante três anos, em comunidade religiosa com seus amigos, em oração, estudos e penitências.

Aclamação do povo e sacerdócio

Um dia no ano 391, em que tinha ido a Hipona — onde a fama de sua santidade e saber já havia chegado —, estava ele rezando numa igreja, quando o povo o rodeou, aclamando-o e pedindo ao bispo Valério que lhe conferisse o sacerdócio. Apesar de todos os seus protestos, ele teve que curvar-se à vontade de Deus.
A primeira coisa que Agostinho fez, quando ordenado, foi pedir ao bispo um lugar para erguer um mosteiro como o de Tagaste. Logo povoado de almas eleitas sob a direção de Agostinho, desse celeiro sairiam pelo menos 10 bispos para as dioceses vizinhas.
Apesar de não ser costume na África um sacerdote pregar estando o bispo presente, o bispo Valério incumbiu Agostinho de fazê-lo, e suas pregações tiveram sucesso imediato. Não se podia resistir à força de sua argumentação nem à unção de suas palavras. Ele combatia sobretudo o maniqueísmo, que conhecia bem. Num debate público com Fortunato, um de seus corifeus, de tal maneira o arrasou, que este teve que abandonar Hipona.

Combateu inimigos da fé, desarmou infiéis

O bispo Valério, considerando o valor de Agostinho, temeu perdê-lo para outra diocese. Por isso, pediu ao Primaz de Cartago que o nomeasse seu bispo-auxiliar com direito à sucessão. Mais uma vez Agostinho teve que se curvar ante a vontade da Providência. Pouco depois, com a morte de Valério, tomou posse da direção da diocese. Mas quis que em seu palácio se observasse a regularidade religiosa, para que tivessem mais eficiência seus trabalhos apostólicos.
O santo bispo de Hipona foi um dos maiores defensores da ortodoxia em seu tempo tumultuado por heresias, combatendo-as com a palavra e com a pena. Depois dos maniqueístas, combateu as heresias dos pricilianistas e dos donatistas, tão poderosos na África, onde já haviam infectado mais de quatrocentos prelados e combatiam os fiéis católicos a ferro e fogo. Agostinho obteve auxílio do Imperador Honório para a erradicação de tão perniciosos elementos.
Combateu também as heresias dos pelagianos, dos semi-pelagianos e dos arianos, vindos com a invasão dos godos. “Enfim, Santo Agostinho não se contentou em combater os inimigos da fé e desarmar os infiéis, os hereges, os libertinos e os cismáticos. Quis trabalhar ainda mais pela Igreja, pois, além das obras polêmicas que compôs, redigiu tratados para todos os estados da vida civil e cristã. Os casados, os viúvos, as virgens, os regulares, os eclesiásticos e os leigos encontram em seus livros as mais sólidas máximas para sua conduta. [...] Traçou os preceitos da gramática para as crianças; compôs uma retórica para os oradores; explicou as categorias para os filósofos; procurou, com muito trabalho e exatidão, o que havia de mais raro na Antigüidade para os curiosos; escreveu volumes inteiros de teologia positiva para os pregadores; tratou, com uma penetração maravilhosa, os mistérios da Religião: a Trindade, as processões divinas, a Encarnação, a predestinação e a graça, para os teólogos; deixou para os místicos meditações todas de fogo e sublimes contemplações; forneceu grande quantidade de belas leis para os jurisconsultos; em uma palavra, enriqueceu a Igreja com inumeráveis escritos, armas temíveis e invencíveis para derrubar aqueles que tentassem atacá-la”[6].
Enfim, em 430 os bárbaros vândalos invadiram o norte da África e cercaram Hipona. Consumido pela tristeza, pois via naquilo a mão de Deus que castigava, Agostinho foi vitimado por uma febre que o prostrou ao leito. Tendo sempre presente sua anterior vida pecaminosa, mandou que escrevessem na parede de seu quarto os salmos penitenciais, para os ter diante dos olhos o tempo todo, até entregar sua compungida e nobre alma a Deus, a 28 de agosto de 430[7]. Mereceu o glorioso nome de Doutor e defensor da graça, pela refutação que fez à doutrina errônea da graça, pregada pelo pelagianismo[8].
Plinio Maria Solimeo

[1] Confissões, Edições Paulinas, 2a edição,1984, Livro II, 1, p. 43.
[2] Id., Livro III, 6, p. 65.
[3] Id., Livro V, 13, p. 116.
[4] Encyclopédie Accueil, Données encyclopédiques, copyright © 2001 Hachette Multimédia / Hachette Livre.
[5] Eugène Portalié, The Catholic Encyclopedia, Volume II, Transcribed by Dave Ofstead, Copyright © 1907 by Robert Appleton Company, Online Edition Copyright © 2003 by Kevin Knight.
[6] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo 10º, p. 306.
[7] Obra também consultada: San Agustin, obispo de Hipona, adaptado de Vidas de los Santos de Butler. Versão eletrônica das Siervas de los Corazones Traspasados de Jesús y Maria, SCTJM.
[8] Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, Santo Agostinho, 28 de agosto, tomo II, p. 600.

MONICA DE HIPONA

Esposa, Mãe de santo Agostinho, Santa
332-387


Santa Mónica: Continua rogando pelas mães e por seus filhos, pelas esposas e seus maridos e por todos os pobres pecadores que necessitamos nos converter.
Mónica significa dedicada à oração e à vida espiritual.
Santa Mónica é famosa por ter sido mãe de Santo Agostinho e por ter conseguido a conversão de seu filho.
Mónica nasceu em Tagaste (África do Norte) a uns 100 quilómetros da cidade de Cartago no ano 332. Seus pais encomendaram a formação de suas filhas a uma mulher muito religiosa mas de muito forte disciplina.
Ela desejava dedicar-se à vida de oração e da solidão (como seu nome indica) mas seus pais dispuseram que tinham que casar-se com um homem chamado Patrício.
Este era um bom trabalhador, mas com um terrível mal génio, e além disso mulherengo, jogador e sem religião e nem gosto pelo espiritual.
A fez sofrer o que não está escrito e por trinta anos ela teve que aguentar os tremendos estalidos de ira de seu marido que gritava pelo menor motivo, mas este jamais se atreveu a levantar a mão contra ela. Tiveram três filhos: dois homens e uma mulher. Os dois menores foram sua alegria e consolo, mas o mais velho Agostinho, a fez sofrer por dezenas de anos.
Fórmula para não brigar
Naquela região do norte da África, onde as pessoas eram sumamente agressivas, as demais esposas perguntavam a Mónica porque seu marido era um dos homens de pior génio em toda a cidade, mas não a agredia nunca, e ao contrário os esposos delas as agrediam sem compaixão.
Mónica respondeu-lhes: "É que quando meu marido está de mal humor, eu me esforço para estar de bom humor. quando ele grita, eu me calo. E como para brigar precisam de dois e eu não aceito a briga...não brigamos". Esta formula fez-se célebre no mundo e serviu a milhões de mulheres para manter a paz em casa.
Patrício não era católico, e ainda que criticasse o muito rezar de sua esposa e sua generosidade tão grande com os pobres, nunca se opunha a que ela se dedicasse a estas boas obras, e quiçá por isso mesmo conseguiu sua conversão.
Mónica rezava e oferecia sacrifícios por seu marido e ao fim alcançou de Deus a graça de que no ano 371 Patrício se deixasse baptizar, e que o mesmo o fez a sogra, mulher terrivelmente colérica que por meter-se demasiadamente no lar de sua nora tinha amargado a vida da pobre Mónica. Um ano depois de seu baptismo, morreu santamente Patrício, deixando a pobre viúva com o problema do filho mais velho.
Patrício e Mónica tinham se dado conta de que seu filho mais velho era extraordinariamente inteligente, e por isso o enviaram à capital do estado, a cidade de Cartago, para estudar filosofia, literatura e oratória. Mas Agostinho teve a desgraça de que seu pai não se interessasse por seus progressos espirituais. Somente lhe importava que tirasse boas notas, que brilhasse nas festas sociais e que se sobressaísse nos exercícios físicos, mas sobre a salvação de sua alma, não e interessava nem lhe ajudava em nada. E isto foi fatal para ele, pois foi caindo de mal a pior em pecados e erros.
Quando seu pai morreu, Agostinho tinha 17 anos e começaram a chegar a Mónica notícias cada vez piores, de que o jovem levava uma vida pouco santa. Em uma doença, frente o temor da morte, se fez instruir sobre a religião e propôs tornar-se católico, mas ao ser curado da doença abandonou o propósito de fazê-lo. Finalmente, tornou-se sócio de uma seita chamada dos Maniqueus, que afirmavam que o mundo não tinha sido feito por Deus, mas pelo Diabo. Mónica era bondosa mas não covarde, nem frouxa, ao voltar seu filho de férias e começar a ouvir as barbaridades contra a verdadeira religião, o expulsou sem mais de casa e fechou-lhe as portas, porque sob seu teto não queria abrigar a inimigos de Deus.
Uma visão
Mas aconteceu que nestes dias Mónica teve um sonho em que viu que ela estava em um bosque chorando pela perda espiritual de seu filho e que nesse momento se aproximava dela um personagem muito resplandecente e lhe dizia: "teu filho voltará contigo" e em seguida viu a Agostinho junto a ela. Narrou ao garoto o sonho tido e ele disse, cheio de orgulho, que isso significava que ela ia se tornar maniqueísta como ele. Mas ela respondeu-lhe: "No sonho não me disseram, mãe irá com seu filho, mas teu filho voltará contigo". Esta hábil resposta impressionou muito a seu filho, que mais tarde a considerava como uma inspiração do céu. Isto aconteceu no ano 437.
Faltavam 9 anos para que Agostinho se convertesse.
Por muitos séculos foi muito comentada a bela resposta que um bispo deu a Mónica quando ela lhe contou que passou anos e anos rezando, oferecendo sacrifícios e fazendo rezar a sacerdotes e amigos pela conversão de Agostinho. O bispo respondeu-lhe: "Fique tranquila, é impossível que se perda o Filho de tantas lágrimas". Esta admirável resposta e o que tinha escutado em sonho, a enchia de consolo e esperança, apesar de que Agostinho não dava o menor sinal de arrependimento.
Quando tinha 29 anos, o jovem decidiu ir a Roma a dar aulas. Já era um doutor. A mãe se propôs em ir com ele para livrá-lo de todos os perigos morais. Mas Agostinho fez uma armadilha para a mãe (da qual se arrependeu muito mais tarde). Ao chegar junto ao mar Mónica lhe disse que fosse rezar no templo, enquanto ia visitar a um amigo, e o que fez foi subir no barco e sair rumo a Roma, deixando-a sozinha, mas Mónica não era uma mulher fraca para se deixar derrotar facilmente. Tomou outro barco e se dirigiu a Roma.
A conversão do filho
Em Milão: Mónica se encontrou com o Santo mais famoso da época, Santo Ambrósio, arcebispo dessa cidade. Nele encontrou um verdadeiro pai cheio de bondade e de sabedoria que foi guiando-a com seus prudentes conselhos.
Além disso, Agostinho ficou impressionado por sua enorme sabedoria e a poderosa personalidade de Santo Ambrósio e começou a escutá-lo com profundo carinho e a mudar suas ideias e entusiasmar-se pela fé católica.
E aconteceu que no ano 387, Agostinho, ao ler umas frases de São Paulo sentiu a impressão extraordinária e se propôs a mudar de vida. Enviou longe a mulher com a qual vivia em união livre , deixou seus vícios e maus costumes. Se fez instruir na religião e na festa da Páscoa da Ressurreição desse anos fez-se baptizar.
Agostinho, agora convertido, dispôs voltar com sua mãe e seu irmão, a sua terra, na África, e foram ao porte de Ostia a esperar o barco.
Mas Mónica já tinha conseguido tudo o que esperava nesta vida, que era a conversão de seu filho. Já poderia morrer tranquila. E aconteceu que estando aí em uma casa junto ao mar, à noite ao ver o céu estrelado conversando com Agostinho sobre como serão as alegrias que teria no céu ambos se emocionavam comentando e meditando as alegrias celestiais que os esperavam. Em determinado momento exclamou entusiasmada: "E a mim, o que mais pode me amarrar à terra? Já obtive meu grande desejo, o ver-te cristão católico. Tudo o que desejava consegui de Deus". Pouco depois invadiu-lhe uma febre, e em poucos dias se agravou e morreu. A única coisa que pediu a seus dois filhos é que não deixassem de rezar pelo descanso de sua alma. Morreu em 387 aos 55 anos de idade.
Milhares de mães e de esposas encomendaram-se em todos estes séculos a Santa Mónica, para que as ajude a converter a seus maridos e filhos, e conseguiram conversões admiráveis. 
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