segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MUCIANO MARIA WIAUX

Religioso, Santo
1841-1917


30 de Janeiro
 
No dia 20 de Março de 1841 nasceu, em Mellet, na Bélgica, Louis-Joseph Wiaux, sendo baptizado no mesmo dia do nascimento como costume da época.
Mellet é um lugar de gente muito tranquila, trabalhadora e honrada. Aí a família Wiaux destaca-se por seu sentido de vida cristã. Trabalham muito, sempre com muita descontracção e um humor destacável. E Luís foi crescendo nesse ambiente de trabalho, alegria e piedade.
No dia 28 de Março de 1852 Luís fez sua primeira comunhão. Era muito trabalhador, alegre, modesto e muito delicado de consciência. Logo que terminava suas tarefas, lia muito. Era obediente. Não foi um menino prodígio, mas tinha uma inteligência aberta e ágil, com excelente memória. Tinha um temperamento de chefe e uma formação baseada nos princípios cristãos.
Sua vocação foi amadurecendo e não era novidade para aqueles que o conheciam. Logo se anuncia o caminho do Senhor e em 7 de Abril de 1856 dirige-se ao Noviciado dos Irmãos das Escolas Cristãs, em Namur. Ele sabia que tudo era necessário para fazer-se na nova vida e começar um novo aprendizado. O ambiente do Noviciado era de silêncio, orações, exercícios espirituais, leituras espirituais, trabalhos, conferências sobre Vida Religiosa e Regra... Luís sabia que sairia do Noviciado como Irmão.
Em 1º de Julho de 1856 o postulante Luís José Wiaux toma o hábito, na entrada do Noviciado, e recebe o nome de Irmão Muciano Maria (Mutien-Marie). Faz um Noviciado de generosidade impulsiva. Desejou, desde cedo, que sua vida fosse um SIM total aos superiores e à Regra. Toda a sua espiritualidade estava sustentada em 3 pontos: culto à Regra, submissão evangélica aos superiores e amor filial a Nossa Senhora.
Em 8 de Setembro de 1857, o Irmão Muciano iniciava seu apostolado, numa pequena classe na escola São José de Chimay (l’école Saint-Joseph de Chimay). Amava sua condição de educador, mas não tinha muitas vitórias. A frustração profissional e a ansiedade lhe causavam muita dor. Mas era um modelo de regularidade e fervor religioso. Em 14 de Setembro de 1859, o Irmão Muciano emite seus primeiros votos religiosos por uma duração de 3 anos. No mesmo dia ele é designado para fazer parte da comunidade de Malonne, onde ficaria por 58 anos.
O director de Malonne, Irmão Maixentis, passou a dar ao Irmão Muciano ocupações acessíveis e começou a ajudá-lo, para que se tornasse um bom e respeitável professor. Colocou o Irmão Muciano para aprender desenho e pintura. E ele foi aprender por obediência. Trabalhou paisagens, figuras, estudos de animais e plantas. Durante muito tempo. Tinha uma grande tenacidade que se afirmava na sua resolução obediente. Enquanto pintava, rezava, envolto da presença de Deus. Depois, aprendeu harmónio, flauta, clarinete, contrabaixo e, por fim, órgão. Exercia tudo com muita graça e humildade... e sempre por obediência.
Para o Irmão Muciano todos eram bons e todos trabalhavam, mas confessava que alguns poderiam dar-se mais. Levava sempre as palavras com amor.
O Irmão Muciano era auxiliar do Irmão Méardus, artista nato, que dava aulas de desenho especial. E Irmão Muciano seguia esse modelo exímio de professor. Atendia a todos, rectificava os desenhos e felicitava sempre o aluno com um sorriso. Distribuía a tempo todo o material e exigia ordem e limpeza no local. Sempre em oração contínua. Era o Irmão que rezava sempre.
Em 1860 o Irmão Muciano foi promovido a professor dos principiantes. Eram crianças, com todas as suas consequências. E ele dava cabo à aprendizagem que exigia muito silêncio, atenção e ritmo seguro. Ensinava harmónio aos seus alunos. Logo, também, foi professor dos normalistas. Sempre estava na classe quando seus alunos chegavam e os recebia com um sorriso acolhedor e uma saudação amável. Todos sabiam que o que fazia era por amor e obediência.
Em 26 de Setembro de 1869, o Irmão Muciano emitiu seus votos perpétuos. Sua suavidade de trato com os alunos lhes inspirava verdadeira veneração. Todos lhe queriam muito bem e para todos sempre tinha uma palavra amável.
Ao longo dos anos, os empregos incómodos sempre caíram sobre seus ombros, e ele sempre os recebeu vazio de si mesmo e cheio do Espírito do Evangelho como queria São João Batista de La Salle. O bem que o Irmão Muciano realizou em Malonne com sua "vigilância" é incalculável. Sempre atento e sempre solícito. Poderia ter-se relevado de vários serviços, dada a sua idade e a asma que o crucificavam. Mas por amor não o fez.
Estava sempre na capela com o Senhor e aí permanecia por duas ou três horas. Orava, meditava, conversava com seu fervoroso Companheiro.
Cuidava dos passeios dos internos pelo pátio, durante os recreios. Fazia sempre companhia aos doentes... também dava assistência em todos os ensaios de música instrumental. Sem esforço, com naturalidade, sua alma retornava à região donde gozava Deus e sua presença amada. Somente Deus contava para ele. Deus o seduzia. Para o Irmão Muciano a oração era a sua vida — eis o Irmão que reza sempre.
Durante a oração mental, seus lábios se moviam. Podia seguir sua veemente respiração e escutar a palavra que repetia sem cessar: "Jesus". Havia um diálogo emocionante entre Deus e seu amigo, porque Deus respondia no silêncio que se alternava com suas efusões místicas.
O Irmão Muciano tinha uma devoção ardorosa por Maria. Pronunciava a Ave Maria sem sombra de rotina, com devoção e amor. Cada palavra lhe saía da alma. Na gruta de Nossa Senhora de Lourdes, o Irmão Muciano amava e rezava longamente à Virgem. Aquando de sua morte, nas últimas horas, disse ao enfermeiro que o acompanhava: "Quão feliz se sente alguém, tendo amado muito a Virgem durante a vida..."
O Irmão aceitava a Regra. Toda a Regra. Tinha sua vida inteira com imolação e holocausto perene, homenagem de sua pessoa, alma e corpo, afecto e critérios, desejos e vontades. Ele adorava o Deus presente e se entregava, por inteiro, a Ele.
Durante 33 anos regulou todos os movimentos da comunidade, com sua exactidão e precisão, com sua pontualidade.
Ele foi professor "titular" apenas um ano, nunca explicou "catecismo" e nem explanou seu zelo na tradicional reflexão. Foi apóstolo nato, que transmite "efectivamente" a mensagem evangélica. Não limitou seu zelo a uma classe. Irradiava-se por oração. Rezava por todos, em todo o tempo.
Ele tinha uma alegria contagiante, vital e comunicativa. Essa alegria tem seu manancial em Deus, por isso não morria e era benfeitora. Participava, com imensa felicidade das festas e comemorações. Suas maiores alegrias eram: captar o sentido divino e humano das festas litúrgicas, as festas dos santos de sua devoção, os acontecimentos da Igreja, o êxito dos missionários, a conversão dos pecadores, o ambiente fervoroso do internato entre outras tantas.
Veio, então, a Guerra de 1914, que estremeceu toda a Europa. Em Malonne seguiu-se com angústia os acontecimentos, pois passava-se por graves necessidades. Em 24 de Agosto, Malonne se agitou com violência. Mais de 2.000 homens invadiram e acamparam nos pátios do colégio e pelos arredores. No dia seguinte marcharam à chegada de outra tropa. Assim foi durante 52 meses terríveis... Irmão Muciano colocou tudo nas mãos de Deus; e sua generosidade deu confiança ao seu redor. Os alunos e Irmãos seguiram suas vidas e dividiam o espaço com tropas, generais, médicos, enfermeiros, enfermos, convalescentes que iam e vinham sem cessar.
O Irmão Muciano, em cada manhã, um quarto de hora antes da oração comunitária, já estava ante o altar da Virgem dando bom-dia. O tempo passando, foi deixando a impressão de um santo.
No inverno de 1916 o frio alcançava seus 15 graus abaixo de zero. Era um dos invernos mais rigorosos. Em Malonne, em quinze dias, morreram quatro Irmãos, todos anciãos que não resistiram.
O Irmão Muciano nunca teve boa saúde, mas sempre tinha resistido e se defendido. Em 21 de Novembro ele iniciou uma crise aguda de tosse, asma intermitente que lhe tirava o sono e reumatismo que lhe entorpecia os movimentos. Em poucas semanas tinha envelhecido abruptamente. Recebeu, assim, o Viático e a sagrada Unção e, levantou-se e foi à capela rezar. Aos poucos foi voltando ao seu trabalho. Mas, na segunda semana de Dezembro o frio foi mais intenso e a escassez de comida foi se agravando. E, juntos, foram se agravando as doenças do Irmão Muciano. Mas, arrastando-se, acudia a tudo, realizava suas funções com doçura e humildade, continuava de um ao outro, corrigindo, orientando, felicitando, porém, sua saúde cada vez mais lhe tirava as forças e o estava vencendo.
No dia 27 de Janeiro de 1917 o Irmão Muciano realizou suas últimas orações diante do altar da Virgem e teve seu último dia de comunidade. À tarde, seus alunos assistiam emocionados o esforço de um herói dando sua última lição de harmónio.
No dia 28 um Irmão o ajudou a ir à capela. Quis ler, mas o livro caiu-lhe das mãos... arrastou-se como pôde para receber a Eucaristia... ao voltar, repetir fora de si: "Jesus, Jesus, te amo..."
Por fim, o Irmão Director o acompanhou até a enfermaria. O Irmão Muciano não se moveria mais. Aos Irmãos que o visitavam, ele dizia que "estava nas mãos de Deus, e onde melhor?...".
A eternidade se abriu imponente a ele.
Segunda-feira, 29 de Janeiro de 1917. O dia passou lento e doce.
Terça-feira, 30 de Janeiro de 1917. O Irmão Muciano rendeu sua alma a Deus.
A notícia triste correu logo. A desolação estava estampada no rosto dos Irmãos, dos alunos, dos empregados, dos amigos.
Em 1º de Fevereiro de 1917, Irmão Muciano é sepultado no cemitério da comunidade de Malonne. No dia 2 de Maio de 1926 é depositado numa nova sepultura, ao pé da torre da Igreja paroquial, em Malonne.
Irmão Muciano viveu sua vida realizando tarefas humildes e em intenção constante de perfeição e obediência. Ele tinha-se oferecido sem condição a Deus e Deus agora dava sem condições a sua glória e poder. E as palavras "santo" e "milagres" se entrelaçavam com o nome do Irmão Muciano.
Em 30 de Outubro de 1977, em Roma, junto com outro Irmão das Escolas Cristãs — Irmão Miguel Febres Cordeiro, religioso equatoriano —, o Irmão Muciano Maria Wiaux era beatificado por S.S. o Papa Paulo VI.
E, em 30 de Outubro de 1980, em Malonne, inaugurou-se a capela e o centro de actos "Irmão Muciano Maria". As relíquias do Bem-aventurado repousam num esquife de mármore branco próximo do altar novo do santuário.
Em 10 de Dezembro de 1989, a S.S. o Papa João Paulo II o canonizou.
O Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs celebra a sua memória no dia 30 de Janeiro.

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