Sacerdote, Fundador,
Santo
1673-1716
1673-1716
Um dos missionários da
devoção mariana mais conhecidos, incansável pregador da sagrada escravidão de
amor a Maria Santíssima, apóstolo da Contra-Revolução
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Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista e de Joana Roberto de la
Vizeule, Luís Grignion nasceu em 3de janeiro de 1673, em Montfort-la-Cane (hoje
Montfort-sur-Meu), na Bretanha. Por devoção a Nossa Senhora, no crisma
acrescentou ao seu nome o de Maria.
Luís herdou do pai um temperamento colérico e arrebatado, e dirá depois que "custava-lhe
mais vencer sua veemência e a paixão da cólera que todas as demais juntas".
Mas conseguiu-o tão bem, que um sacerdote seu companheiro, nos últimos anos de
sua vida, atesta que: "Realizou esforços incríveis para vencer sua
natural veemência; e o conseguiu, e adquiriu a encantadora virtude da
doçura" [1],
que atraía tanto as multidões.
O pequeno Luís Grignion de Montfort sentia também muito pendor pela
solidão, sendo comum retirar-se a um canto da casa para entregar-se à oração
diante de uma imagem da Virgem, rezando principalmente o Rosário.
Em 1684 os pais o enviaram a estudar humanidades como externo no Colégio
Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes. Ali passará ele oito anos, com muito bom
aproveitamento.
Todos os dias, antes de ir para o colégio, ele passava em alguma igreja
para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento e a alguma imagem de Nossa
Senhora. Muitas vezes, antes de voltar para casa, fazia o mesmo.
Amor pelos pobres e vocação sacerdotal
Cresceu nele um desejo inato de ajudar o próximo. Como diz um seu biógrafo, "seu
bom coração, cheio de misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava
a ocupar-se em amparar os escolares pobres que estudavam com ele no colégio.
Não os podendo socorrer com seus próprios recursos, ia solicitar para eles
esmolas junto às pessoas caridosas" [2].
Foi isso que o levou a frequentar um grupo de jovens reunidos por um
sacerdote, o Padre Bellier, aos quais este fazia palestras sobre temas
piedosos, e os enviava depois aos hospitais para consolar e instruir os pobres.
Era junto destes que o adolescente Luís passava parte de seus dias de folga.
Concluídos os estudos, decidiu tornar-se sacerdote, dirigindo-se então a
Paris. Fez a longa viagem a pé, pedindo de esmola alojamento e comida.
Uma benfeitora obteve para ele que entrasse no célebre seminário de Saint
Sulpice. Depois de muitas vicissitudes, foi ordenado sacerdote em 1700.
Intensa luta contra os jansenistas
Durante cinco anos não contínuos, o Padre de Montfort ― como era
conhecido ― trabalhou na diocese de Poitiers, seja como capelão do
Hospital Geral, seja pregando missões nos arrabaldes da cidade, combatendo as
blasfémias, canções obscenas e embriaguezes. No Hospital Geral veio-lhe a ideia
de formar uma associação de donzelas, que "dedicou à Sabedoria do
Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e
estabelecer entre elas a loucura do Evangelho" [3].
Seleccionou para isso 12 das jovens pobres mais fervorosas, elegendo como sua
superiora uma cega. Mais tarde associou a esse grupo duas jovens da boa
burguesia, a futura beata Maria Luísa Trichet e Catarina Brunet. "A
sabedoria que preconiza Montfort se inspira, de um lado, na segunda carta de
São Paulo aos Coríntios: a cruz, escândalo e loucura para tantos sábios, mas
sabedoria de Deus, misteriosa e escondida" [4].
Entretanto os infeccionados pela heresia jansenista ― essa
espécie de protestantismo disfarçado ―, junto com os livres pensadores,
começaram uma campanha de calúnia contra esse missionário
"extravagante", que pregava uma "devoção exagerada" à Mãe
de Deus. Ele precisou dissolver sua associação da Sabedoria e retirar-se do
Hospital, apesar dos protestos veementes dos pobres e dos enfermos.
O Padre de Montfort aproveitou essa ocasião para fazer uma peregrinação a
Roma. Na Cidade Eterna, pôs-se à disposição do Sumo Pontífice para trabalhar
pela salvação das almas em qualquer parte onde este o quisesse enviar. Clemente
XI julgou que o missionário seria mais útil em sua própria pátria, ensinando a
doutrina cristã às crianças e ao povo e fazendo reflorescer o espírito do
cristianismo pela renovação das promessas do baptismo. O Papa nomeou-o
Missionário Apostólico. Mas estava ele sob a dependência dos bispos, muitos dos
quais de tendência jansenista.
Missionário Apostólico em Nantes
Voltando à França, passou a trabalhar com o Padre Leuduger, que tinha um
grupo de missionários dedicados totalmente à evangelização do campo. Foi uma
nova experiência para o Padre Montfort, pois constatou a importância do canto e
das grandes procissões nos esforços missionários. Ele escreverá várias dezenas
de cantos populares, cujas letras se adaptavam a melodias profanas, muito em
voga então.
Seis meses depois, vemo-lo em sua cidade natal, evangelizando a região, tendo
associado a si dois leigos, um dos quais será o Irmão Maturin Rangeard, que
continuará por 55 anos evangelizando como missionário leigo.
Mas esta actividade foi também proibida a Luís Grignion pelo bispo de Saint
Malo, por influência dos jansenistas.
Em Nantes ele obteve o cargo de director das missões de toda a diocese,
tendo ali trabalhado durante dois anos. Dessa época temos o seguinte depoimento
de um seu contemporâneo: "O que mais se destacava nele era um dom
e uma graça singular para ganhar os corações. Tendo-o ouvido, punha-se nele
toda confiança. [...] A confiança pronta e fácil que as pessoas tinham nele era
tão grande, que conseguiu estabelecer em várias paróquias as orações da noite,
o rosário e a sepultura nos cemitérios [contra o costume de se enterrar nas
igrejas]; o que não se tinha podido conseguir, [...] ele o conseguiu na
primeira proposta que fez" [5].
A construção do Calvário de Pontchâteau
Numa missão em Pontchâteau, o Padre de Montfort entusiasmou-se com a ideia
de erigir um grande calvário em uma colina próxima, e seu entusiasmo contagiou
o povo. Durante 15 meses, de 400 a 500 pessoas de todas as idades e condições
sociais trabalharam diariamente para aplainar o terreno e montar o calvário. O
Padre de Montfort estava exultante. Tinha já conseguido do bispo de Nantes a
autorização para benzê-lo, e estava tudo preparado para o dia 14 de setembro,
festa da Exaltação da Santa Cruz. Mas, à véspera desse dia, chegou uma
proibição formal do bispo de se proceder à cerimónia. O assunto levantou
polémica e chegou até Versalhes, onde, mal informado, o rei Luís XIV ordenou
que demolissem aquilo que lhe apresentavam como uma fortaleza facilmente conquistável
pelo inimigo vindo do mar...
Em seguida veio a proibição de pregar naquela diocese.
Por sua devoção ao Rosário, o Padre de Montfort entrou para a Ordem
Terceira de São Domingos, querendo pertencer a uma Ordem que honrava de maneira
tão especial a Santíssima Virgem.
Recusado e até expulso de várias dioceses ― uma vez lhe foi
interditado até celebrar, tendo ele que partir imediatamente para chegar em
tempo à diocese vizinha, a fim de rezar a Missa na festa da Assunção ―,
soube o missionário que seria bem recebido nas dioceses de Luçon e de La
Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente anti-jansenistas.
Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandeia, que mais
tarde, em 1793, levantar-se-ia contra a sangrenta e atéia Revolução Francesa.
Foi na Vandeia que o Padre de Montfort trabalhou durante os últimos cinco anos
de sua vida, implantando naquelas populações uma sólida formação católica. Esta
foi, décadas mais tarde, um decisivo factor para a gloriosa e épica Guerra da
Vandeia, contra os ímpios revolucionários de 1789.
Carta Circular aos Amigos da Cruz
Nessa região, após as missões, fundava ele associações sob o nome de Irmãos
e Irmãs da Cruz, para quem escreveu sua belíssima Carta Circular aos Amigos da
Cruz.
Na cidade de La Rochelle, onde ainda pairavam os erros dos calvinistas, ele
pregou sucessivamente para pobres, soldados, mulheres e homens. Operou várias
conversões, principalmente pelo ministério da confissão, inclusive a de uma
dama de qualidade que fez sua retractação pública, para edificação dos
católicos e horror dos protestantes.
Em 1714 ergueu os alicerces da futura congregação de missionários, a
Companhia de Maria.
O Padre Grignion de Montfort pregava uma missão em Saint Laurent-sur-Sèvre,
quando foi acometido por uma pleurisia que o levou ao túmulo, no dia 28 de
abril de 1716.
São Luís Grignion e a Contra-Revolução
São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser considerado um apóstolo da
Contra-Revolução. Seus livros e escritos inspiraram grandes vultos católicos no
século XX, sobressaindo entre eles o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, grande
devoto do admirável doutor mariano e especial difusor de sua doutrina.
O livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e
conduziu no caminho da perfeição muitas almas em todo o mundo. "A
originalidade maior de Montfort consiste, provavelmente, em ter descoberto
Maria como garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se
do apego imperceptível que se esconde em suas melhores acções. Desapego que
consiste, provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de
escravidão" [6].
Plínio Maria Solimeo
[1] Padre Louis Perouas, San Luis María
Grignion de Montfort, Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1984,
Introdução, pp. 5 e 22.
[2] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints,
d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo
XV, p. 320.
[3] Padre Louis Perouas, op. cit., p. 11.
[4] Id. ib. p. 12.
[5] Padre Coupperie des Jonchères, in Louis
Perouas, op. cit., p. 16.
[6] Louis Perouas, op. cit., p. 35. Obras
também consultadas: Francesco Pappalardo, San Luigi Maria Grignion da Montfort
(1673-1716),http://www.alleanzacattolica.org.; Austin Poulain, St. Louis-Marie
Grignion de Montfort, The Catholic Encyclopedia, Volume IX, 1910, by Robert
Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight.
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