Religiosa dominicana, Mística, Santa1347-1380
29 de Abril
Catarina de Sena nasceu em Sena em 1347, numa família muito numerosa, e faleceu em Roma em 1380. Com 16 anos, impelida por uma visão de São Domingos, entrou na Terceira Ordem Dominicana, no ramo feminino chamado das Manteladas. Permanecendo em família, confirmou o voto de virgindade feita de modo particular, quando ainda era uma adolescente, dedicando-se à oração, à penitência e às obras de caridade, sobretudo em benefício dos enfermos.
Quando a fama da sua santidade se difundiu, foi protagonista de uma intensa actividade de conselho espiritual em relação a todas as categorias de pessoas: nobres e homens políticos, artistas e pessoas do povo, pessoas consagradas, eclesiásticos, inclusive o Papa Gregório XI que nesse período residia em Avinhão e que Catarina exortou enérgica e eficazmente a regressar a Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e para favorecer a paz entre os Estados: também por este motivo, o Venerável João Paulo II quis declará-la co-Padroeira da Europa: o Velho Continente nunca esqueça as raízes cristãs que estão na essência do seu caminho e continue a haurir do Evangelho os valores fundamentais que asseguram a justiça e a concórdia.
Catarina sofreu muito, como numerosos Santos. Chegou-se mesmo a pensar que era necessário desconfiar dela, a tal ponto que, em 1374, seis anos antes da sua morte, o capítulo geral dos Dominicanos a convocou em Florença para a interrogar. Puseram ao seu lado um frade douto e humilde, Raimundo de Cápua, futuro Mestre-Geral da Ordem. Tendo-se tornado seu confessor e também seu «filho espiritual», escreveu uma primeira biografia completa da Santa. Ela foi canonizada em 1461.
A doutrina de Catarina, que aprendeu a ler com dificuldade e a escrever quando já era adulta, está contida em O Diálogo da Providência Divina, ou seja, Livro da Doutrina Divina, uma obra-prima da literatura espiritual, no seu Epistolário e na colectânea das suas Orações. O seu ensinamento é dotado de uma riqueza tão profunda, que o Servo de Deus Paulo VI, em 1970, a declarou Doutora da Igreja, título que se acrescentava ao de co-Padroeira da cidade de Roma, por desejo do Beato Pio IX, e de Padroeira da Itália, segundo a decisão do Venerável Pio XII.
Numa visão que nunca mais se cancelou do coração e da mente de Catarina, Nossa Senhora apresentou-a a Jesus, que lhe confiou um anel maravilhoso, dizendo-lhe: «Eu, teu Criador e Salvador, desposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando celebrares comigo no Céu as tuas bodas eternas» (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n. 115, Sena 1998). Aquele anel permaneceu visível unicamente para ela. Neste episódio extraordinário vemos o centro vital da religiosidade de Catarina e de toda a espiritualidade autêntica: o cristocentrismo. Cristo é para ela como o esposo, com quem está em relação de intimidade, de comunhão e de fidelidade; é o bem-amado acima de qualquer outro bem.
Esta profunda união com o Senhor é ilustrada por outro episódio tirado da vida desta insigne mística: a troca do coração. Segundo Raimundo de Cápua, que transmite as confidências recebidas de Catarina, o Senhor Jesus apareceu-lhe tendo na mão um coração humano vermelho resplandecente, abriu-lhe o peito, introduziu-o nele e disse-lhe: «Caríssima filhinha, dado que no outro dia tomei o teu coração, que tu me oferecias, eis que agora te concedo o meu, e doravante estará no lugar que o teu ocupava» (Ibidem). Catarina viveu verdadeiramente as palavras de São Paulo, «... já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).
Como a Santa de Sena, cada fiel sente a necessidade de se uniformizar com os sentimentos do Coração de Cristo para amar a Deus e ao próximo como o próprio Cristo ama. E todos nós podemos deixar-nos transformar o coração e aprender a amar como Cristo, numa familiaridade com Ele alimentada pela oração, pela meditação sobre a Palavra de Deus e pelos Sacramentos, principalmente recebendo de maneira frequente e com devoção a Sagrada Comunhão. Também Catarina pertence àquela plêiade de Santos eucarísticos, com a qual eu quis concluir a minha Exortação Apostólica Sacramentum caritatis (cf. n. 94). Estimados irmãos e irmãs, a Eucaristia é uma dádiva extraordinária de amor que Deus nos renova continuamente para alimentar o nosso caminho de fé, revigorar a nossa esperança e inflamar a nossa caridade, para nos tornar cada vez mais semelhantes a Ele.
Em volta de uma personalidade tão vigorosa e autêntica, foi-se constituindo uma verdadeira família espiritual. Tratava-se de pessoas fascinadas pela respeitabilidade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e por vezes impressionadas também pelos fenómenos místicos aos quais assistiam, como os frequentes êxtases. Muitos se puseram ao seu serviço e sobretudo consideraram um privilégio ser orientados espiritualmente por Catarina. Chamavam-lhe «mãezinha», porque como filhos espirituais dela recebiam o alimento do espírito.
Também hoje a Igreja recebe um grande benefício do exercício da maternidade espiritual de numerosas mulheres, consagradas e leigas, que alimentam nas almas o pensamento de Deus, revigoram a fé das pessoas e orientam a vida cristã rumo a metas cada vez mais elevadas. «Digo-vos e chamo-vos filho — escreve Catarina, dirigindo-se a um dos seus filhos espirituais, o cartuxo Giovanni Sabbatini — enquanto vos dou à luz mediante contínuas orações e desejos diante de Deus, do mesmo modo como uma mãe dá à luz o seu filho» (Epistolário, Carta n. 141: A dom Giovanni de Sabbatini). Ao frade dominicano Bartolomeu de Dominici, ela estava habituada a dirigir-se com estas expressões: «Amadíssimo e caríssimo irmão e filhinho em Cristo, dócil Jesus».
Outra característica da espiritualidade de Catarina está vinculada ao dom das lágrimas. Elas exprimem uma sensibilidade sublime e profunda, uma capacidade de comoção e de ternura. Não poucos Santos tiveram o dom das lágrimas, renovando a emoção do próprio Jesus, que não impediu nem escondeu o seu pranto diante do sepulcro do amigo Lázaro e do sofrimento de Maria e de Marta, e da visão de Jerusalém nos seus últimos dias terrenos. Segundo Catarina, as lágrimas dos Santos misturam-se com o Sangue de Cristo, do qual ela falava com tonalidades vibrantes e imagens simbólicas muito eficazes: «Recordai Cristo crucificado, Deus e homem (...). Ponde-vos como objectivo Cristo crucificado, escondei-vos nas chagas de Cristo crucificado, afogai-vos no sangue de Cristo crucificado» (Epistolário, Carta n. 16: A alguém sobre cujo nome não se pronuncia).
Aqui podemos compreender por que motivo Catarina, embora estivesse consciente das faltas humanas dos sacerdotes, sempre teve uma grandíssima reverência por eles: eles dispensam, através dos Sacramentos e da Palavra, a força salvífica do Sangue de Cristo. A Santa de Sena convidava sempre os ministros sagrados, até o Papa, a quem chamava «doce Cristo na terra», a serem fiéis às suas responsabilidades, impelida sempre e unicamente pelo seu amor profundo e constante pela Igreja. Antes de morrer, ela disse: «Partindo do corpo eu, na verdade consumi e entreguei a minha vida na Igreja e pela Santa Igreja, o que é para mim uma graça extremamente singular» (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n. 363).
Portanto, de Santa Catarina nós aprendemos a ciência mais sublime: conhecer e amar Jesus Cristo e a sua Igreja. No Diálogo da Providência Divina ela, com uma imagem singular, descreve Cristo como uma ponte lançada entre o céu e a terra. Ela é formada por três grandes escadas, constituídas pelos pés, pelo lado e pela boca de Jesus. Elevando-se através destas grandes escadas, a alma passa pelas três etapas de cada caminho de santificação: o afastamento do pecado, a prática da virtude e do amor, a união dócil e afectuosa com Deus.
Caros irmãos e irmãs, aprendamos de Santa Catarina a amar com coragem, de maneira intensa e sincera, Cristo e a Igreja. Por isso, façamos nossas as palavras de Santa Catarina, que podemos ler no Diálogo da Providência Divina, na conclusão do capítulo que fala de Cristo-ponte: «Por misericórdia Vós lavastes-nos no Sangue e por misericórdia desejastes dialogar com as criaturas. Ó Louco de amor! Não vos foi suficiente encarnar, mas também quisestes morrer! (...) Ó misericórdia! O meu coração ofega-me quando penso em Vós: para onde eu me dirija a pensar, mais não encontro do que misericórdia» (cap. 30, págs. 79-80).
Papa Bento XVI: Audiência geral da quarta-feira 24 de Novembro de 2010.
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